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Opinião|Festival da Amazônia consagra 'Verônica'

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
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Manaus - Em sua 9ª edição, o Amazonas Film Festival fez a coisa certa: deu o prêmio principal a Era uma Vez Eu, Verônica, de Marcelo Gomes, e a estatueta de melhor atriz a Hermila Guedes, intérprete do papel-título. Verônica já havia vencido em Brasília (dividindo o troféu com Eles Voltam, de Marcelo Lordelo), mas o júri da Capital deixou de dar o prêmio a Hermila, preferindo outra atriz. Desse modo, a premiação de Verônica ficou incompleta. Agora a falta é reparada e a Hermila foi dado o que é de Hermila. O filme estreia nesta sexta-feira.

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Para chegar ao prêmio principal, Era uma Vez Eu, Verônica teve de enfrentar sete concorrentes de nível - dois brasileiros e cinco estrangeiros. Entre eles, o dinamarquês Teddy Bear, que valeu a Mads Matthiesen a estatueta Voo na Floresta (é o nome do troféu manauara) de melhor diretor. Eis aí um filme de fato muito interessante, com seu personagem, fisiculturista gigantesco e tatuado, completamente dominado pela mãe idosa. O filme ganhou também o júri popular.

O outro peso pesado na disputa era A Parte dos Anjos, de Ken Loach, com estreia prometida para este mês. Rendeu o troféu de roteiro a Paul Laverty, tradicional parceiro de Loach. O filme pode ser definido como uma comédia de cunho social, na qual aparece a habitual simpatia de Loach pelas classes desfavorecidas. O norte-americano Compliance, um estudo sobre o assédio moral, ficou com o troféu de fotografia.

A produção local A Floresta de Jonatas, de Sérgio Andrade, deu o prêmio de melhor ator para Begê Muniz. Ele interpreta o papel de um jovem vendedor de frutas que se perde pela floresta. O filme é de surpreendente qualidade para uma região de rarefeita produção em longas-metragens.

Além dos oito longas-metragens, o Festival do Amazonas contou com 30 curtas em competição - 14 locais e 16 da produção nacional. Entre estes, a animação paulista Linear, de Amir Admoni, ficou com o prêmio principal. O melhor filme de ficção local foi Uma Doce Dama, de Leonardo Mancini, que imita a técnica do cinema mudo. O melhor documentário foi Chão Molhado, de Everton Macedo, sobre a cidade de Parintins, atingida pela cheia do Rio Amazonas em 2012. É, de fato, o documentário com melhor técnica cinematográfica, entre os concorrentes.

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O festival, como um todo, teve bom nível, em especial entre os longas-metragens e curtas nacionais. A produção amazônica, ainda rarefeita, necessita de mais elaboração. É incipiente e, se exibe lampejos de criatividade, mostra ainda deficiências técnicas e conceituais. Normal, para uma região que apenas no ano que vem ganhará sua primeira escola de cinema.

O festival pode funcionar como evento catalisador da produção audiovisual da região. Nos últimos anos, mudou seu foco. Antes tinha o subtítulo de "festival de filmes de aventuras", ligando a região ao que dela se imagina no exterior. O evento era coorganizado por uma empresa francesa e trazia convidados estrangeiros, alguns muito conhecidos, como os diretores Roman Polanski, John McTiernan e Alan Parker, atores e atrizes como Bill Pulmann, Joaquim de Almeida, Claudia Cardinale e Carole Bouquet.

Agora, ênfase passou do âmbito internacional para o brasileiro, embora ainda mantenha diálogo com produções e artistas de outros países. A Amazônia conserva seu charme. Precisa apenas dar um jeito de atrair artistas e fazer com que permaneçam para a festa de encerramento. Não faz sentido Marcelo Gomes e Hermila Guedes não estarem presentes para receber seus troféus.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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