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Opinião|Estudo sobre o desejo dá prêmio a Ang Lee

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Atualização:

Lust Caution chegou ao Festival de Veneza com o rótulo prévio de escândalo do ano. Dizia-se que era um filme histórico com cenas fortes de sexo pelo meio do caminho. E não deixa de ser assim mesmo, embora, vamos convir, as chamadas cenas tórridas não chocam mais ninguém depois de se tornarem comuns nas novelas das 20 h. O diretor do filme é Ang Lee, que havia vencido dois anos antes com O Segredo de Brokeback Mountain, a tal história dos caubóis gays. E não é que Lee ganhou o Leão de Ouro de novo com Lust Caution?

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Filme de época sem cheiro de mofo, ambienta-se na China dos anos 40, invadida pelo Japão. De um lado há um grupo de jovens resistentes, que põem a pele em risco para combater o inimigo; de outro, um chinês colaboracionista do governo títere, Yee (Tony Leung). Os jovens querem praticar um atentado contra o compatriota traidor. Mas como chegar a ele, que vive protegido por mil guarda-costas? Talvez pelo sexo, e para isso entra em cena a jovem Wong Chia Chi (interpretada pela estreante Tang Wei). A idéia é seduzir a fera para conduzi-la à armadilha.

E, no entanto... No entanto, como disse Ang Lee, ele não fez um filme sobre o sexo, mas sobre o desejo, o que é bem diferente. Sobre um pode-se, no limite, ser linear; sobre o outro, será preciso trabalhar sobre paradoxos. Nem sempre o que se deseja é o que se quer e vice-versa. Muitas vezes o desejo manda no sentido contrário da consciência e coloca o ser humano diante de um dilema, porque, nesse caso, qualquer caminho tomado implica perdas e numa séria divisão interna. Ou traímos a nossa ética ou traímos o nosso desejo. O filme é sobre isso e nem tanto sobre a história política da China ou sobre os prazeres que podem ser obtidos por dois corpos jovens.

Para realizar esse estudo sobre o desejo, Lee adota o tom cálido que às vezes lembra o de Wong Kar-Wai, embora o sentido de sensualidade deste último seja imbatível. O filme é envolvente e apresenta em alguns pontos aquela radicalidade da paixão que faz fronteira com a morte. Além disso, deve-se lembrar que Ang Lee é um bom narrador e por isso conduz sua história de espionagem e amor com muita fluidez ao longo de 156 minutos.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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