Enfim, esse filme não teria a mínima chance de passar pela censura brasileira daquela época, o que de fato aconteceu. Quando por fim foi liberado, já no começo dos anos 80, foi um acontecimento. Mesmo assim, com cortes (a cena da bandeira ficou na tesoura, mas todo mundo sabia que ela existia). Claro que Estado de Sítio, se me permitem a paráfrase, reflete também um estado de espírito. Aquela era uma época diferente, e o cinema político, que absolutamente não morreu, estava então em seu apogeu. Hoje, aparece sob outras formas. Mas, claro, não existe essa percepção de que se havia uma guerra revolucionária em curso e que os governos deveriam reprimi-la com todas as armas. Era a guerra fria, e os Estados Unidos não se incomodavam em assessorar "governos amigos" na luta estratética contra o comunismo. Tempos.
Dito isso, e colocado em seu contexto, deve-se dizer que o filme não envelheceu. É um eficiente thriller político que começa com cenas de rua eletrizantes, uma batida policial montada em planos paralelos e que prendem a atenção. Mais adiante virá o sequestro propriamente dito e as cenas de interrogatório de Mitrione (Yves Montand) no cativeiro. Lembram, em tudo, as de um filme contemporâneo, Bom Dia, Noite, de Marco Bellocchio, que fala do sequestro e morte do presidente da Democracia Cristã Italiana, Aldo Moro, pelas Brigadas Vermelhas. Eram tempos violentos e esses filmes não economizam a informação ao espectador.
Há também uma clara opção política de Costa-Gavras, o "lado" em que ele se situa, em especial nas cenas do corpo do assessor sendo repatriado e do novo enviado de Washington chegando ao aeroporto de Montevidéu. E sendo observado por mil olhos, provavelmente ligados à resistência.
Costa-Gavras ajudou a registrar a mentalidade daquela época.