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Opinião|Ensaio sobre a dissidência cubana no Cine Ceará

' Santa e Andrés', do cubano Carlos Lechuga, fala da perseguição a dissidentes políticos e a homossexuais em seu país, no anos 1980

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

 

 Foto: Estadão

 

FORTALEZA - A dissidência cubana durante os anos 1980 é homenageada em Santa e Andrés, do jovem diretor Carlos Lechuga. O filme venceu o importante Festival de Cinema de Guadalajara, no México. Foi lá que o vi pela primeira vez, em março. Revi-o ontem aqui em Fortaleza. Foi longamente aplaudido pela plateia do Cine São Luiz.

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A situação criada pela história é a de uma improvável amizade. Santa (Lola Amores) é uma camponesa revolucionária encarregada de vigiar um dissidente homossexual, Andrés (Eduardo Martínez) durante a realização de um encontro internacional nas redondezas. Não querem que ele tenha ideias de aparecer para fazer algum tipo de protesto ou denúncia sobre direitos humanos.

Santa chega pela manhã, levando nas mãos uma cadeira na qual se sentará ao longo do dia para vigiar os movimentos do opositor. Tudo nela é rigidez, mas o convívio faz milagres e eles encontrarão mais coisas em comum do que pensavam a princípio.

Filmado com sobriedade, o próprio filme não deixa de ter uma certa rigidez que atribui à militante. Além do mais, suas mudanças de perspectivas parecem às vezes muito rápidas e, em alguns pontos, artificiais. No entanto, o filme possui qualidades, e, por tocar em tema ainda atual, a questão dos direitos humanos em Cuba, consegue comover o público. Em especial este público aqui, formado por gente interessada tanto no cinema quanto na política latino-americana.

Falando nisso, o festival anda muito menos politizado do que no ano passado. À efervescência de 2016, segue-se a modorra de 2017. Raríssimos "fora Temer" e nenhum "Fora Todos", pelo menos que eu tenha presenciado. A sociedade brasileira, mesmo a de oposição, conformou-se com o golpe. A ilegitimidade tornou-se natural e quase mais ninguém acha que vale a pena indignar-se ou manifestar-se. Vida que segue. Isto é Brasil.

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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