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Opinião|É Tudo Verdade 2021: a arte e a guerra

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Filmes contrastantes na programação de hoje. Dois - brasileiros - celebram a arte e a beleza através da música. São eles Paulo César Pinheiro - Letra e Alma e Dois Tempos. O terceiro - 9 Dias em Raqqa fala da guerra. Mas também da reconstrução. 

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Andrea Prates e Cleisson Vidal partem de uma longa entrevista com Paulo César Pinheiro, poeta e grande letrista da nossa música, para promover uma longa viagem pela nossa arte mais popular. Paulo César é um prodígio, tendo feito a letra de Viagem (música de João de Aquino, primo de Baden Powell) aos 13 anos de idade. Logo embalou carreira, tendo sido parceiro de Baden, Tom Jobim, Eduardo Gudin, João Nogueira, entre outros. O filme oferece momentos de rara beleza, música & poesia, e também de bom humor carioca. Paulo César é um senhor contador de causos. Evoca os tempos da boemia e também sua ancestralidade indígena, com a avó de Angra dos Reis e o avô pescador. Quando o filme termina, a gente fica pedindo mais. Ótima pedida para fazer um pouco as pazes com este Brasil doido e agressivo da contemporaneidade. 

Em Dois Tempos, de Pablo Francischelli, temos um autêntico road movie musical. O veterano violonista argentino Lucio Yanel e seu antigo pupilo - e hoje músico consagrado - Yamandu Costa se reencontram para fazer uma viagem a Corrientes, na Argentina, a bordo de uma motor house dirigida pelo brasileiro. A vantagem é que ambos são muito bem-humorados e a viagem se recobre de graça - e arte quando os dois ensaiam seus duetos em violão. O final da estrada leva a um festival de música em Corrientes, terra de Yanel. Mas, como às vezes acontece nas viagens, a melhor parte está no percurso e não na chegada. Dá gosto ouvi-los falar. E, sobretudo, ouvi-los tocar seus instrumentos. 

9 Dias em Raqqa, de Xavier de Lauzanne, mostra a cidade reduzida a ruínas pelo Estado Islâmico. Mas após o caos, vem a reconstrução. E ela é comandada por uma jovem prefeita de 30 anos, Leila Moustapha, engenheira de formação. Uma escritora francesa vem do seu país para acompanhar o processo e escreve um livro sobre o trabalho da prefeita. As filmagens são em torno desses dois tempos da cidade síria - a devastação, e não apenas dos edifícios públicos, mas de toda a população, submetida aos horrores das perseguições, penas cruéis e execuções públicas. Em seguida, vem a dura tarefa de recolocar em pé tudo o que foi detonado. É bastante emocionante ver essa jovem, de origem curda, dedicando sua vida e energia a esse resgate. Filme sobre o horror, é também sobre a esperança. 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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