2) Já o naufrágio do Costa Concordia seria outro caso de ridículo supremo, não tivesse terminado de forma trágica, com o custo de vidas humanas. Um mastodonte daqueles, encalhar nas rochas por, supõe-se, um ato de exibicionismo do comandante, é o fim da picada. O affair do capitão covarde tem sido comentado de várias formas, algumas inteligentes. AItália, numa profunda crise de identidade pós-Berlusconi, tomou-o como fato simbólico: afinal, somos uma nação de Schettinos ou de De Falcos? Não está na hora de todos dizermos, como De Falco, "Vada a bordo, cazzo" ?
Li hoje, na Folha, a brilhante análise de Contardo Calligaris sobre o tema da covardia. Cita vários autores, incluindo Shakespeare. Estranho é que ninguém, que eu saiba, tenha feito a ligação do caso do capitão italiano com uma das mais célebres obras da literatura, Lorde Jim, de Joseph Conrad, que trata exatamente disso, do ato covarde que persegue o homem ao longo da vida. E no ambiente náutico, ainda por cima, o mesmo do malfadado Capitão Schettino.
Será que ninguém mais lê Conrad hoje em dia?