Sucesso de público, mas sujeito a polêmicas, Alô, Alô, Terezinha foi bastante discutido na entrevista coletiva. Hoineff usa muitas cenas dos programas de TV de Chacrinha, mas as intercala com entrevistas atuais de antigos participantes, em especial as chacretes.
Elas são vistas nas gravações, no auge da forma e, agora, em sua, digamos assim, gloriosa maturidade. O tempo passou para elas (como para todos nós), mas algumas não se furtam ao desafio de vestir os antigos trajes que, sumários, se acomodam mal aos corpos atuais. Dão declarações que parecem polêmicas e contraditórias. Algumas dizem que faziam ?programas? para complementar a renda, outras afirmam que nada disso existia.
O documentário foi acusado, assim, de promover uma visão preconceituosa e machista em relação às mulheres. Visão que predominava na época de Chacrinha e no ambiente do seu show, mas que não tem mais razão de ser no mundo de hoje. "Todo mundo via as chacretes apenas como um bando de mulheres gostosas. No filme, eu as individualizo, aparecem como personagens complexas", defende-se Hoineff.
A defesa mais geral seria que "se trata de um filme sobre Chacrinha, ou seja, sobre um humor debochado", diz o diretor. O documentário, de fato, é vibrante e, incorpora, em sua linguagem, aquele caos calculado do animador. Não é tanto sobre Chacrinha: usa Chacrinha como linguagem. E, portanto, não tem papas na língua e pode se permitir a tudo. Ou quase tudo.
Quais os limites éticos do documentarista? - é a pergunta que fica pendente. O diretor Nelson Hoineff recebeu inesperado apoio no debate, por parte de uma mulher, a atriz Círia Coentro, concorrente pelo longa baiano Estranhos. "A crueldade faz parte da vida", disse Círia. "Eu ri daqueles personagens, os antigos calouros, e não tinha jeito de evitar; ao mesmo tempo me compadeci deles." O riso e a compaixão são evocados em Alô, Alô Terezinha. Mas é um filme que ainda será muito debatido.
(Caderno 2, 4/5/09)