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Cinema, cultura & afins

Opinião|Docs de Veneza (2) Jia Zhang-Ke

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

VENEZA - Você deve saber que Jia Zhang-Ke, diretor de Em Busca da Vida, que ganhou Veneza no ano passado, é também documentarista. Aliás, Dong, seu primeiro de uma série de docs sobre artistas, estava aqui mesmo no festival no ano passado. E é ambientado na mesma região da represa das Três Gargantas onde se passa a história de Em Busca da Vida. O homem documenta e ficcionaliza em cima. Ou vice-versa porque, no caso, a ordem dos fatores não altera o produto. Aliás, os produtos.

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Pois bem, neste ano, ele trouxe o segundo da trilogia dos artistas, Wu Yong, traduzido em inglês para Useless - Inútil. O que é inútil? Bem, é o título da coleção que a estilista chinesa Ma Ke exibiu em Paris no ano passado. Um filme sobre moda? Em termos, porque Jia acompanha a estilista, vai ao seu estúdio em Pequim, mas registra também a região produtora dos tecidos, os operários, os trabalhadores em uma mina. Vai, como quem não quer nada e seu alterar seu registro cinematográfico, fazendo uma espécie de corte transversal da sociedade chinesa contemporânea. Pode-se desconfiar que é isso que o interessa, muito mais do que a moda, em si mesma.

Explicando sua técnica, e o trabalho com documentário e ficção, o cineasta disse: "Quando filmo ficção, eu em geral tento manter certa objetividade ao apresentar os personagens. Mas quando filmo documentário, quero capturar o drama que é inerente à realidade e desejo expressar de maneira fiel minhas impressões subjetivas sobre ela". Como Jia Zhang Ke acredita no poder da imagem não precisa sobrecarregá-la com registros didáticos para expressar esse fato de realidade, que salta do filme sem qualquer demagogia - para que alguém vista uma roupa de grife em Paris é preciso que alguém sue para tecê-la numa fábrica calorenta no Cantão. É só isso o cinema social. É tudo isso.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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