Meio brincando, meio a sério, Hermano, no debate, disse que, com esse filme, considera paga sua dívida para com o Cinema Novo.
De fato, o filme abre com uma seqüência cinemanovista, por assim dizer: o corpo de um boi (boi santo, depois se sabe) abatido diante de uma multidão. O sangue jorra e banha os pés dos camponeses.
O filme é ambientado no final dos anos 40, com o fim do cangaço, a morte de Lampião e que, assinala, simbolicamente, a chegada da "modernidade"ao sertão. O faz, a partir da saga do personagem Zé Olimpio ( (Rui Ricardo Diaz, o "Lula" no filme de Fábio Barreto), filho de um fazendeiro, que troca o interior por Sao Paulo, emprega-se na construçao civil, volta para sua terra, torna-se político e, no fim, sonha com Brasília, cuja inauguração é iminente no Planalto Central.
O filme é ambicioso, no bom sentido, ao abarcar um período largo de tempo, e num dos momentos históricos mais significativos, do Estado Novo ao período JK, pré-golpe de Estado. de certa forma, é a saga desiludidada de um personagem problemático e cujo fim trágico, assinala, simbolicamente, o destino de algumas esperanças perdidas do País.
Mudancas de estilo e alguma irregularidade de nível prejudicam um filme interessante, apaixonado e intrinsecamente honesto. Hermano, cearense há 35 anos radicado em São Paulo, tenta fazer essa ponte entre o Brasil rural e o urbano que fazem parte da sua estrutura existencial. Instala-se nessa fricção entre os dois países que se atraem e repelem e terminam por desenhar um mapa nada apaziguado dos seus conflitos.