O universo é onírico e, por ser circense, felliniano. Investe na travessia de fantasias e medos infantis e é muito bonito visualmente. Um pouco soturno, como costumam ser as fábulas infantis. Quem acha que a infância é um paraíso cor de rosa é porque esqueceu da sua.
Na entrevista, perguntei a Goldenstein a que público Corda Bamba se destinava e ele respondeu que o filme se via em camadas. Quer dizer, adultos podiam fazer uma leitura, e crianças, outra. Acredito nisso. Mas não basta eu acreditar. Aliás, não vale nada. A prova dos noves será no circuito comercial, com um público já viciado em obras menos sutis e refinadas que esta.
Acho que, com a quantidade de referências espalhadas (Fellini, Bergman, etc), Corda Bamba pode satisfazer a cinéfilos. Crianças ou jovens nem têm esse repertório e nem mesmo se preocupam em decodificar as coisas. Mergulham nelas (se for o caso) e gostam ou não conforme as sentem. Acho que, como o filme toca em fantasias inconscientes relativas a um trabalho de luto, pode dar certo.
Veremos. A vida anda dura no Brasil para quem procura ser sutil.