Bonita também a singela homenagem à atriz Giulia Gam, clean e elegante em seu vestido branco e bastante emocionada porque aquela era a primeira vez que subia num palco para receber um tributo por sua carreira. Em seguida, rolou a primeira noite de competição.
O que se viu? Um filme paranaense chamado O Coro, de Werner Schuman (não confundir com o gaúcho Werner Schunemann, diretor e ator). Schuman reúne personagens angustiados, reunidos em torno dos ensaios do coral da 9ª Sinfonia de Beethoven. O engraçado (se graça há) é que tanta tristeza gravita em torno de uma peça baseada na Ode à Alegria, de Schiller, musicada por um Beethoven já surdo. Paulo (Emanuel Martinez) é o maestro cuja mãe está moribunda. Francisca (Célia Ribeiro) chega a minúsculo apartamento, com sua mala enorme, e não consegue se relacionar com as pessoas. Antonia (Silvia Monteiro) tem medo da solidão e da velhice e procura companhia com garotos de programa. Salomão Benner (Paulo Barato) busca incessantemente um certo Beckett ao telefone, mas seu Godot nunca aparece.
Não faltam ideias a este filme que busca medir a dança da existência humana pelo contraponto de uma das mais altas realizações musicais da humanidade. É filmado em preto e branco e busca enquadramentos e angulações pouco banais. Enfim, busca com certo afã o selo "filme de arte", com seus cacoetes, o que sem dúvida o prejudica. Parece procurar, no fundo, mais a respeitabilidade artística do que o fundo do ser dos seus personagens. Estes acabam por se mover num universo um tanto esquemático, em que as teses sobre sua existência já foram definidas a priori. Eles estão na tela apenas para confirmá-las.
Schuman, disse, a propósito, que o seu era um filme diferente: "em geral os personagens entram em conflito uns com os outros; em O Coro, os conflitos são dos personagens consigo mesmos". É verdade, mas essa percepção não basta para fazer cinema convincente. É preciso que essa divisão interna dos personagens se expresse de maneira exterior e atinja o público. A artificialidade com que os conflitos são apresentados não ajuda. Acabam sendo notas dissonantes num filme que usa a grande música como pretexto.