Luiz Zanin Oricchio
20 de dezembro de 2013 | 12h46
João Pessoa – O concorrente paulistano Se Deus Vier que Venha Armado, de Luiz Dantas, foi o grande vencedor da 8a edição do Fest Aruanda. Levou o troféu principal e ainda os de diretor, fotografia e menção honrosa para o ator Ariclenes Barroso.
O segundo filme mais bem premiado foi o documentário carioca Setenta, de Emilia Silveira, com o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio do Público.
O paraibano Tudo que Deus Criou, de André da Costa Pinto, ficou o melhor roteiro e melhor ator (Paulo Phillipe). O pernambucano Amor, Plástico e Barulho ficou com o prêmio de melhor atriz (Maeve Jinkings) e o prêmio da crítica.
Foi um bom festival, coroado por uma premiação coerente e corajosa do júri.
Os destaques dessa premiação foram o caráter urgente da violência urbana expresso em Se Deus Vier que Venha Armado, e o rescaldo da ditadura militar trabalhado em Setenta. O ambiente sórdido e expressionista de Tudo que Deus Criou também foi lembrado pelo júri, e as imagens da cena da música brega do Recife, de Amor, Plástico e Barulho não ficou de fora.
Vistos em seu conjunto os filmes compõem um painel problemático e multifacetado da sociedade brasileira. Seus abismo sociais, a herança maldita da ditadura, a dialética entre a sensualidade e o sexo travado (portanto doentio), a separação artificial entre baixa e alta cultura são aspectos que fornecem o impulso desses filmes no mínimo interessantes. Podem ser discutidos e discutíveis, porém nada têm de adocicados ou diretamente planejados para o mercado como boa parte da produção brasileira. Funcionam fora da zona de conforto e estão aí para nos emocionar e nos fazer pensar. E mesmo para incomodar.
O festival, como quase todos os eventos do gênero nesta fase de transição do analógico para o digital, sofreu com problemas técnicos. Houve sessões interrompidas e alguns concorrentes foram prejudicados. Urge completar essa travessia porque os festivais brasileiros têm sido frequentemente tumultuados por questões tecnológicas. Quando estas se avolumam, o foco no estético/social/político pode ficar em segundo plano.
Outro ponto alto do Aruanda foram os seminários, em especial aquele que refletiu sobre os 50 anos de ditadura militar vistos pelo cinema, antecipando a triste efeméride do ano que vem, os 50 anos do golpe. Com Camilo Tavares (O Ano que Durou 21 Dias), Emília Silveira (Setenta), Silvio Tendler (Jango) e Vladimir Carvalho (O País de São Saruê), além das brilhantes intervenções do ensaísta, diretor e ator Jean-Claude Bernardet, o seminário atingiu grau de reflexão poucas vezes visto nos festivais brasileiros. É algo para se guardar.
Como também é para ser lembrada a noite de abertura com a presença luminosa de Ney Matogrosso, que lotou o cinema no shopping MAG. No encerramento, o homenageado foi o ator Lázaro Ramos, protagonista de O Grande Kilapy, do angolano Zezé Gamboa, filme exibido após a premiação. Após a interrupção de 2012, o Aruanda voltou com força e rejuvenescido. Precisa apenas cuidar-se do fogo amigo das rivalidades internas da cidade.
PREMIADOS NA
CATEGORIA LONGA-METRAGEM
SE DEUS VIER QUE VENHA ARMADO (SP) – melhor filme, melhor diretor (Luis Dantas), melhor fotografia (Hélcio “Alemão” Nagamine), menção honrosa (ao ator Ariclenes Barroso)
SETENTA (RJ), de Emilia Silveira – Prêmio Especial do Juri, Melhor filme pelo Juri Popular
TUDO QUE DEUS CRIOU (PB), de André da Costa Pinto – melhor roteiro (André da Costa Pinto), melhor ator (Paulo Phillipe)
AMOR, PLASTICO E BARULHO (PE), de Renata Pinheiro – melhor atriz (Maeve Jinkings), Prêmio da Crítica-Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema)
JURI ARUANDA DE LONGA
E CURTA-METRAGEM -INTEGRANTES
O juri foi formado por Vladimir Carvalho, Orlando Margarido,
Marcos Henrique,……. Em breve lhes mando o nome dos dois outros integrantes
CURTAS-METRAGENS PREMIADOS:
A NAVALHA DO AVÔ (SP) – melhor filme de ficção, ator (Jean-Claude Bernardet), roteiro (Francine Barbosa e Pedro Jorge)
A GUERRA DOS GIBIS (SP) – melhor documentário, melhor trilha sonora (Bid)
A DAMA DO ESTACIO (RJ) – melhor direção (Eduardo Ades), Premio de melhor curta pelo Juri Popular.
SOPHIA (PB) – melhor curta paraibano (Prêmio Funesc, no valor de R$ 2 mil) – Prêmio da Crítica-Abraccine.
JUS (CE) – Premio BNB (Banco do Nordeste do Brasil) no valor de……..
FEIJOADA COMPLETA – melhor atriz (Thaís Tedesco)
GIAP (RJ) – melhor montagem (Felipe Viana)
FOGO-PAGOU (PB) – melhor fotografia (Bruno Salles)
DIQUE – melhor montagem (Adalberto Oliveira)
**********PREMIO ABRACCINE – Os jurados foram André Dib, Renato Felix e Wills Leal, os três associados da Abraccine, mais os professores da UFPB, Regina Behar e Marcel Vieira).
CURTA METRAGEM
MELHOR ROTEIRO — Francine Barbosa e Pedro Jorge por A Navalha do Avö
MELHOR SOM — Adalberto Oliveira, por Dique
MELHOR MONTAGEM/EDIÇAO — Felipe Vianna, por Giap
MELHOR FOTOGRAFIA — Bruno Salles, por Fogo-Pagou
MELHOR TRILHA SONORA — Bid, por A Guerra dos Gibis
MELHOR ATOR — Jean-Claude Bernardet, por A Navalha do Avö
MELHOR ATRIZ — Thais Tedesco , por Feijoada Completa
MELHOR DIREÇÃO — Eduardo Ades, por A Dama do Estácio
MELHOR CURTA DOCUMENTÁRIO — A Guerra dos Gibis, de Thiago Mendonça e Rafael Terpins
MELHOR CURTA FICÇAO — A Navalha do Avö, de Pedro Jorge
Prêmio Funesc de MELHOR CURTA PARAIBANO — Sophia, de Kennel Rógis
MELHOR CURTA COM TEMÁTICA NORDESTINA — Jus, de Marcelo Didimo
LONGA METRAGEM
MELHOR LONGA-METRAGEM — Se Deus Vier, Que Venha Armado, por Luiz Dantas
PREMIO ESPECIAL DO JÚRI — Setenta, de Emilia Silveira
MELHOR DIREÇÃO — Luiz Dantas, por Se Deus Vier, que Venha Armado
MELHOR ATOR — Paulo Phillipe, por Tudo o que Deus Criou
MELHOR ATRIZ — Maeve Jinkings, por Amor, Plástico e Barulho
MENÇAO HONROSA — ator Ariclenes Barroso, por Se Deus Vier que Venha Armado
MELHOR FOTOGRAFIA — Hélcio “Alemao” Nagamine, por Se Deus Vier, Que Venha Armado
MELHOR ROTEIRO — André da Costa Pinto, por Tudo que Deus Criou
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