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Opinião|Diário de Veneza (6) É de Herzog o filme surpresa

Essa tem sido uma prática do festival. Deixa por divulgar alguns concorrentes já durante a competição. Assim, dos 24 competidores do Leão de Ouro, conhecia-se apenas 23 títulos. O último foi divulgado - e exibido - ontem. Trata-se de My Son, My Son, What Have Ye Done, de Werner Herzog, com Michael Shannon e William Defoe. Um bonito filme, diga-se, sobre o processo de enlouquecimento do jovem, vivido por Shannon que, ao interpretar um papel numa peça, leva as consequências da ação para a vida real. No caso, de maneira trágica, matando a própria mãe. O filme é produzido por David Lynch e baseia-se, segundo se diz, em um fato real. Não há problema em revelar a natureza do crime, mesmo porque ele acontece logo no começo da história - o resto se sabe através de flash backs e de depoimentos, inclusive o da namorada do rapaz. Não me lembro de ter visto o mesmo diretor concorrer com dois títulos na mesma mostra de Veneza. Não digo que isso nunca tenha ocorrido, mas faz dessa dupla presença de Herzog pelo menos um caso raro, pois já havia apresentado seu remake de Bad Lieutenant aqui no Lido.

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Dele, se pode dizer que continua com intensidade em sua imersão na cultura americana, como já havia acontecido com seu conterrâneo Wim Wenders. Mas talvez a ideia que se tem de Herzog seja outra. A de alguém que busca situações-limites, linha em que vem atuando mesmo nesses filmes mais recentes. A sensação de déjà vu de Bad Lieutenant não deve nos cegar para algumas qualidades do filme. E este My Son, My Son tem força, tem ímpeto e é um mergulho sem rede de proteção em uma mente delirante. Para nós, uma curiosidade adicional. Em uma sequência, a música utilizada é Cucurucucú Paloma, interpretada por Caetano Veloso. Mesma música já usada por Pedro Almodóvar em Fale com Ela. Alguma coisa de impressionante essa interpretação de Caetano deve ter. E tem. É arrepiante. Deixa os "pelos en punta", como diz o personagem Dario Grandinetti em Hable con Ella.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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