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Cinema, cultura & afins

Opinião|Diário de Veneza 2012 Um dia especial

Já o ultimo concorrente, o italiano Un Giorno Speciale (Um Dia Especial), de Francesca Comencini, foi recebido em completa indiferença. Nem vaiado foi. Muito menos aplaudido. Caiu no vazio. O título, isso que é o pior, evoca um clássico do cinema italiano - Una Giornata Particolare, de Ettore Scola. São dois projetos que se desenvolvem num único dia, e isso é tudo o que têm em comum. O de Scola como encontro entre Marcello Mastroianni e Sofia Loren no quadro da Itália fascista. No de Francesca, há também um casal, a candidata a "modelo e atriz" Gina (a estreante Giulia Valentini) e o motorista (Filippo Scicchitano) de um poderoso, um senador que se propõe ajudar a moça em sua carreira. Em troca já se sabe de quê.

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

"Há no filme uma relação com a beleza que não é gratuita", diz Francesca. "Gina é uma bela moça. A beleza é um valor, uma mercadoria. Sobretudo para a mãe, que a transfere para a filha. Há no nosso pais essa relação obsessiva com a beleza, que pode levar a situações vistas no filme". A possibilidade de ascensão social através da filha não é estranha ao cinema italiano, tampouco. Basta lembrar de Belíssima, de Luchino Visconti, no crepúsculo do neorrealismo e já denunciando a sociedade do espetáculo (expressão que nem existia ainda). Sem comparar um filme com outro, é o mesmo veio ficcional de Un Giorno Speciale.

Fora de um contexto de festival, Um Dia Particular poderia ser visto como um filme simpático, talvez facilmente esquecível. No conjunto de uma mostra competitiva, ainda mais formada por concorrentes fortes e ambiciosos, expô-lo chega a ser uma judiação.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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