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Opinião|Diário de Veneza 2012 Malick por suas atrizes

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
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Terrence Malick não dá entrevistas, não participa de junkets, não ajuda na divulgação e nem vem a festivais. Aliás, existe uma lenda urbana segundo a qual ele viria aos festivais e assistiria às sessões, disfarçado, para checar a reação do público. Em Cannes, quando ganhou a Palma de Ouro por A Árvore da Vida, havia a convicção de que Malick estava por lá. Por isso perguntaram aos seus produtores se ele não andaria por Veneza, incógnito, sondando a recepção a To the Wonder. Sentia-se sua presença na sala, diziam alguns fiéis. A resposta veio na forma de uma boa notícia: "Infelizmente o Sr. Malick não veio mesmo porque está ocupado, preparando o seu próximo filme". Melhor assim. Mas, como Malick é discreto, gera muita curiosidade. Por isso, os atores são bombardeados com perguntas sobre seu método de trabalho. Ben Affleck, Rachel MacAdams e Javier Bardem não vieram ao Lido. Mas Olga Kurylenko e a italiana Romina Mondello estavam aqui para contar suas experiências. Romina deu um divertido depoimento. Ela interpreta Anna, italiana libertária que dá conselhos a uma hesitante Marina, a personagem de Olga Kurylenko. "A primeira coisa que ele me perguntou foi se eu gostava do nome da personagem. Fiquei surpresa.", disse. Depois, conta a atriz, o diretor lhe entregou um detalhado roteiro sobre a vida de Anna, que ela deveria estudar minuciosamente. Em seguida, pediu que esquecesse tudo e introjetasse a personagem. "Foi o que fiz, e isso foi uma iluminação para mim", disse. Toda falante, Olga Kurylenko disse que Malick havia lhe ensinado uma coisa muito importante - que o silêncio pode valer mais do que as palavras. "Ele passa sua mensagem mais por imagens, pelo olhar, pela expressão do rosto, pelos gestos", disse. De fato, sua personagem é muito física, digamos. Dança e brinca muito, se expressa pelo corpo mais que pelo verbo. Mesmo assim, é dela a fala em off que, em francês, percorre a narrativa. Mas, para Olga, Malick deu de graça um conselho que vale para todo mundo: "Antes de filmar, ele me pediu que lesse Os Irmãos Karamazov e O Idiota, de Dostoievski, e Anna Karenina, de Tolstói. Tive dois meses para terminar os livros e isso mudou minha percepção de vida". Grande Malick.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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