Seus jovens personagens são herdeiros de uma revolução que se diz derrotada ou interrompida. Ainda crêem nela. Mas têm de se ver com outras determinantes da época, como as drogas, a viagem mística ao Oriente, o confronto com a esquerda ortodoxa e careta. Gilles (Clément Métayer) é um óbvio alter ego do diretor. Tomado pela política, tenta também desenvolver uma trajetória artística como pintor. Há muita alegria e muito frescor no filme, como se disse. Mas Après Mai é banhado de uma evidente melancolia.
Assayas não o nega. "Não queria dar a impressão de uma juventude idílica, porque a minha não foi assim. Havia o amor, a ternura, claro, e tudo isso está no filme. Mas havia também a pressão do compromisso político, a responsabilidade que sentíamos em relação à classe operária: e a ideia de revolução, que funcionava como superego impositivo para a nossa geração".
Apesar de Gilles ser o foco da narrativa, a vocação de Après Mai é coral, distribuída entre vários personagens, que são os companheiros de turma e de convicção política. Dessa forma, veremos os jovens nessa encruzilhada da vida, e nesse momento muito particular da História, tentando encontrar seus caminhos. Isso numa época em que o coletivo se mesclava de modo muito intenso ao individual. Namoros podiam ser rompidos por divergências de linha política. Essa tensão está lá, nas imagens, no ritmo e na forma de se articular do filme. Faz parte da linguagem.
Aliás, Après Mai, além de acompanhar a trajetória de luta e amor dos jovens, relembra o clima intelectual da época, as discussões que então se travavam. Uma delas, diz respeito ao próprio cinema. Enquanto o Partido Comunista achava que as obras deveriam ser didáticas e acessíveis, para "iluminar o proletariado", os jovens entendiam, como Maiakovski, que não existe arte revolucionária sem forma revolucionária. Quem pensava uma nova sociedade não poderia usar a linguagem "burguesa" da narrativa clássica. Os ortodoxos pensavam exclusivamente no conteúdo e em seu didatismo. A jovem guarda dava importância à forma, sem descurar do conteúdo. Percebem o quanto tudo isso é atual?
Essa discussão influencia a própria maneira como Assayas constrói seu cinema. "Tento fazer um cinema comunicativo, mas que não repita o que já foi visto. Entendo o cinema não como uma forma de comunicação, ou como jornalismo, que deve se preocupar com a informação. É uma arte e assim deve repercutir no espectador para que ele possa ser afetado e, a partir daí, tirar suas próprias conclusões".
Mesclando idéias e ação, sentimento e reflexão, Assayas faz um cinema dialético, que não se impõe ao espectador, mas o leva ao pensamento. E à emoção, porque os termos não são contraditórios ao contrário do que se julga.