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Opinião|Diário de Veneza 2010: Cisne de voo pesado

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Primeiro concorrente em Veneza, Black Swan é o novo filme de Aronofsky, premiado com o Leão de Ouro em 2008 por O Lutador. O novo trabalho não tem a intensidade do anterior - e nem um intérprete cheio de carisma como foi Mickey Rourke no papel de um profissional de luta-livre em fim de carreira.

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No caso de Black Swan, a "lutadora" é uma frágil Natalie Portman, bailarina perfeccionista, porém sem alma, que disputa um papel protagônico em O Lago dos Cisnes. O diretor é um tirano interpretado pelo francês Vincent Cassel. O filme flutua entre a dimensão realista e o imaginário da bailarina Nina (Natalie), enfrentando seus fantasmas - uma mãe dominadora e que se sugere seja uma bailarina frustrada que se projeta vicarimente na filha; a sexualidade reprimida; e um perfeccionismo que serve também como abrigo contra a impureza da vida real.

Tudo isso misturado poderia até ter dado algo legal, não fosse uma certa obsessão em tornar tudo óbvio, o que aliás é uma tendência do cinema de Aronofsky desde A Fonte, passando pelo vencedor de Veneza em 2008, o já citado O Lutador. Natalie vai bem, ela tem mesmo esse arzinho de menina mimada e anódina que o papel exige. Quando tem de se transformar em mulher de verdade, isto é, no Cisne Negro que compõe a íntegra da personalidade exigida pelo papel, não convence. Falta um pouco de taxa hormonal, se é que me entendem. .

O filme oscila entre o tom grandiloquente, em alguns momentos, e a falta de musculatura, em outros. Aronofsky beira o gênero terror em alguns momentos e acaba produzindo um híbrido que passa a centímetros do ridículo. Na sessão de imprensa (a que conta, pois na oficial todos são muito aplaudidos), algumas pessoas gostaram e bateram palmas. Outros vaiaram. A maioria não se manifestou. Saiu apressada e foi cuidar da vida, que por aqui é bem corrida, diga-se.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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