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Opinião|Diário de Gramado 2013 - Perón construído como estátua

Gramado - Puerta de Hierro - El Exilio de Perón, de Victor Leplace, abriu a competição dos estrangeiros. O próprio diretor interpreta Juan Domingo Perón em seu exílio madrilenho, depois de derrubado em 1955. Perón escreve todo dia um artigo e manda para Argentina, uma forma de organizar a resistência peronista no país. Conhece Isabelita, casa-se com ela e, depois, é obrigado a conviver com um vidente picareta, Lopes de Rega, influente junto a Isabelita. Para lembrar: Perón conseguiu voltar ao país, elegeu-se presidente e morreu. Assumiu sua mulher, que era vice, e deu plenos poderes a Lopes de Rega. Seu desgoverno abriu as portas para o golpe militar de 1976 e toda a tragédia social que se seguiu.

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Perón é um personagem controverso. Direita e esquerda o reivindicam, um exemplo de plasticidade política impressionante. Deve haver algo de muito ambíguo em alguém capaz de ocupar um espectro político tão amplo. No entanto, essa ambiguidade não é contemplada nessa hagiografia montada por Leplace, ele próprio um peronista confesso e portanto sem grande distanciamento crítico para fazer uma obra mais multifacetada. Articulado e simpático, não conseguiu defender muito bem o seu projeto durante a coletiva. Achei que ficava um tanto irritado a cada vez que alguém fazia algum reparo ao filme. No entanto, embora tenha qualidades, seu Puerta de Hierro (nome da mansão em Madri), possui um tom muito chapa branca. Tudo o que Perón faz é hierático. Até mesmo quando cozinha um simples macarrão se faz acompanhar por uma trilha sonora operística.

A posição política do diretor se mostra na maneira como constrói seu personagem. No caso, à maneira de uma estátua, embora Leplace sustente que humaniza o caudilho, apenas por que o mostra em momentos de dúvidas. Menos, menos.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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