Romântico mas pouco prático para quem, afinal de contas, precisa trabalhar. Na mesinha do quarto mal cabe um laptop. No café da manhã, um dos empregados passa tocando violino. Bem, é esse o clima.
No cinema, tivemos a abertura com O Palhaço, de Selton Mello, fora de concurso. Já tinha visto em Paulínia e foi bom rever. Deu para notar ainda melhor a sutileza do trabalho. Uma simplicidade que só fala em favor do filme, ainda mais porque deixa muita coisa nas entrelinhas e aposta na inteligência emocional do público. Entra em cartaz em outubro. Tomara tenha sorte no circuito, tomado por obras brutais e pelo escracho que passa por comédia.
Depois veio o primeiro filme da competição, infelizmente exibido para um cinema bastante esvaziado. Riscado, de Gustavo Pizzi, um bom exemplar de cinema independente brasileiro. Gostei, em especial porque Pizzi não pretende exibir-se intelectualmente como "autor", como andam fazendo muitos estreantes, cheios de pretensão e vazios. Pizzi "conta" uma história intensa, protagonizada e escrita por sua própria mulher, a atriz Karine Telles.
Ela interpreta Bianca, que faz teatro e paga suas contas com performances nas quais imita Marilyn Monroe e Betty Page. Até o momento em que surge a grande oportunidade de estrelar uma co-produção França e Brasil na qual fará o seu próprio papel. O filme exibe um frescor raro, tanto na maneira de movimentar a câmera quanto no uso de um naturalismo que nunca soa agressivo. Pelo contrário, passa muita verdade ao espectador. Que, inclusive, se compadece da protagonista e entra no ritmo do desencanto que ela mesma experimenta.
Quem já não teve a sensação de ser coadjuvante de sua própria história? Mesmo assim, é melhor atuar do que permanecer à margem. Belo filme.