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Cinema, cultura & afins

Opinião|Diário de Gramado 2010: Noite gelada e os primeiros filmes

Viemos para Gramado com a torcida do Inter e chegamos ao aeroporto Salgado Filho quase junto com o time. Havia uma multidão esperando. Uma linda festa para os colorados que, na véspera, haviam jogado com o São Paulo e, apesar da derrota de 2 a 1, saíram classificados para a final da Libertadores, com o Chivas de Guadalajara. Enfim, metade dos gaúchos está em festa. E a outra metada - a dos gremistas - se roendo de raiva. Futebol aqui é muito polarizado. Como a política, no Brasil inteiro.

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Enfim, chegamos com sol, o que fez muita gente comentar que a história da onda de frio no sul do País era propaganda turística e que não estava tão gelado assim. Quando baixou a noite, sai de baixo. Gelou, temperatura a ponto de espantar pinguim. Termômetros, supunho, perto do zero grau. Hoje de manhã mesmo, quando saí para dar uma caminhada, estava frio pra burro. Tive de voltar atrás e botar mais agasalho. Passei por um termômetro de rua: estava seis graus Celsius. Fora o vento.

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Ontem à noite mesmo começou o festival, ainda meio tateante, sem a sala cheia, talvez com muita gente ainda por chegar à serra gaúcha. Dois filmes, ambos já em competição: Bróder, de Jeferson De, e Enquanto a Noite não Chega, de Beto Souza.

Bróder eu já havia visto em Paulínia. Foi legal rever. Gosto muito do filme, apesar de ter achado a projeção aqui em Gramado inferior à de Paulínia. Até achei que lá passou em película e aqui em digital. Não sei. Só sei que os matizes de cor, a profundidade, a textura - tudo se perdeu numa projeção chapada, com as cores lavadas. Som bom. E a confirmação de que se trata de um belo filme, com alguns pequenos defeitos (mas qual não os tem). Fiquei mais uma vez impressionado com o trabalho de Caio Blat no papel de Macu, um dos três amigos que se reencontram no Capão Redondo. Os outros são Pibe (Silvio Guindane) e Jaiminho (Jonathan Haagensen). Três amigos, três destinos muito diferentes, num fime sensível e, suponho, de boa comunicação com o público. Agradou.

O segundo longa da sessão foi uma adaptação de Beto Souza para o livro homônimo de Josué Guimarães. A história é a de um casal de velhinhos (Clênia Teixeira e Miguel Ramos) que vive de suas recordações (inclusive a do filho morto em uma revolução). Na cidade em ruínas, antes parte de uma malha ferroviária abandonada, também mora apenas o coveiro (Sirmar Antunes), que se diz pronto para cumprir sua missão. O que espera o casal? A morte, obviamente. Lembra o belo filme Hamaca Paraguaya, de Paz Encina, que passou na Mostra. Mas, o problema, nesse tipo de trabalho, é manter a atmosfera, o clima dessa espera que já não tem razão de ser e só se alimenta da recordação. Não me pareceu muito boa ideia a inserção na trama de filmes, supostamente registrados pelo personagem ao longo da vida, como cineasta amador. Além disso, a trilha sonora torna-se onipresente, sufocando o que haveria de climático nessa história de crepúsculo. Tudo isso contribui para passar uma impressão de artificialismo, em nada produtivo para os propósitos do filme. Pena.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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