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Opinião|Diário de Brasília (2): Lula, o Fillho do Brasil

Foi uma sessão concorridíssima na Sala Villa-Lobos, do Teatro Nacional de Brasília. Os 1400 lugares tomados e mais cerca de 400 pessoas foram espalhadas pelo chão. Imprensa em massa presente e uma advertência do produtor Luiz Carlos Barreto para que quem estivesse sentado nos corredores saísse e esperasse uma nova sessão do filme, pois havia perigo de pânico em caso de algum incidente. O diretor Fábio Barreto protestou que não havia lugar para o elenco do sentar. Enfim tudo foi contornado e a sessão de Lula, o Filho do Brasil pôde começar. Uma sessão histórica pelas dimensões e repercussões políticas do acontecimento. Alguns políticos na platéia, como Ricardo Berzoini e Inácio Arruda e uma presença especial - a da primeira dama, d. Marisa. Nunca um Festival de Brasília começou tão quente quanto este.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Estranhamente, no final das 2h08 do filme não houve a apoteose esperada. Certo, foi bem aplaudido, mas não aconteceu a consagração que alguns já previam. E por quê? Má-vontade oposicionista? Não parece. Na grande maioria, a platéia era composta por simpatizantes do personagem-título. No entanto, alguma coisa derrapa no decorrer do filme, que até começa muito bem com as cenas do sertão de Caetés, Pernambuco, onde Lula nasceu em 1945. Boas imagens, falta de preocupação explicativa, o andamento bom.

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Mas depois o filme vai derrapando, contudo sem nunca chegar ao desastre, é bom que se diga. Acontece que a vida do biografado é já um melodrama. Tome esses elementos: Infância pobre, vinda para Santos num pau-de-arara. Pai alcoólatra, brigas, violência familiar, bebedeiras, a mãe que resolve abandonar o marido e criar sozinha os filhos. Depois o namoro, o casamento com a primeira mulher, que morre de parto, o engajamento na luta sindical, a mãe, sua referência maior, que morre quando Lula está na prisão. Ufa! E tudo isso aconteceu de verdade. A vida de Lula é um roteiro pronto.

O que o filme não deveria ter feito era somar melodrama a mais melodrama. Quer dizer, insistir numa linguagem cinematográfica às vezes muito melosa, pontuada por alguns maus diálogos e, sobretudo, pelo excesso de música. Muito doce enjoa. E é isso, em parte, que contribui para que o filme não se realize por completo. Ao buscar em demasia a emoção, perde-se pela sobrecarga. E então a emoção, tão buscada, trava.

Não que o filme não tenha bons momentos. Pelo contrário. Tem vários. Os do começo, como se disse. Mas também quando Lula, vivido por Rui Ricardo Diaz, cresce no movimento sindical e comanda sua assembléia no Estádio de Vila Euclides. Aí temos cinema e, por isso, emoção genuína. Há um detalhe importante. A figura central talvez não seja Lula, mas sim dona Lindu, magnificamente interpretada por Gloria Pires. Os momentos mais densos passam pela fisionomia dessa figura de mãe, que deve ser um dos trunfos da produção. Seu sofrimento, seu orgulho quando o filho recebe o diploma de torneiro mecânico, sua agonia, tudo isso realmente comove. Ela é como um eixo, ao qual o filme volta quando ameaça derrapar.

O filme era anunciado como a sendo sobre a trajetória de Lula da infância a 1980. Não se furta, porém, de mostrar o ápice da trajetória do personagem ao tomar posse da presidência da República, em 2003. Será um ponto que provavelmente será atacado pela oposição.

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Entre a soma de bons e maus momentos, o que se tem é um filme irregular e que pode ter algum problema em arrebatar grandes platéias, para as quais foi planejado. Depois dessa primeira exibição pública, Lula, o Filho do Brasil, terá nova pré-estréia no Recife e, depois, São Bernardo. Dia 1º de janeiro entre em cartaz. Aí o veredicto será do público que é quem vota e vai ao cinema prestigiar aquilo que lhe interessa.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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