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Opinião|Diário de Brasília (9): Pegada política

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Sempre cai bem no Cine Brasília um filme com pegada política. E foi o caso do documentário À Margem do Lixo, de Evaldo Mocarzel, várias vezes aplaudido em cena aberta, em especial durante falas de catadores de material reciclado em São Paulo. Numa delas, um catador diz que não estava escrito em seu sangue que ele iria ganhar a vida apanhando os restos da sociedade; e que também não está escrito no sangue de um "burguês" (sic) que ele iria ser rico e morar numa mansão. Em outra ocasião, um dos personagens (presente ao festival) faz o elogio do governo Lula, "o único que recebeu gente como eu em palácio e ouviu o que tínhamos a dizer."

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Mocarzel afirma que deixou essa cena, entre outras, porque queria mesmo um filme político e incisivo, nada romântico, nem "bonzinho". Toma partido e vai em frente. Porém, é bom dizer: o filme não se resume a um panfleto. É um exercício cinematográfico interessante. O diretor é culto, experimentalista e inclui seqüências à maneira de Dziga Vertov, o grande cineasta soviético. Como, por exemplo, quando segue o percurso do material a ser reciclado na fábrica até que se transforme em bobinas de papel, prontas a serem reaproveitadas. A seqüência é alucinante, tanto visual quanto auditivamente. A idéia geral do filme, ele diz, é mostrar os catadores como a ponta explorada de um grande negócio, que gera bilhões de reais. Um pouco como olhar de maneira interna o mecanismo de funcionamento da sociedade capitalista.

Os curtas da noite: A Minha Maneira de Estar Sozinho, de Gustavo Galvão, conseguiu a proeza de levar uma grande vaia, mesmo sendo do Distrito Federal. Pudera. Contando a história de um rapaz chamado Sueco, com dificuldades de relacionamento, termina de maneira abstrata, para não dizer incompreensível. Claro, tudo pode ser um sonho. Mas a galera não perdoou.

Já Na Madrugada, da carioca Duda Gorter, trabalha com tema difícil, e sai-se bem. Uma mulher de meia-idade, solitária, também sonha com o relacionamento com uma hipotética parceira. Melancólico às vezes, sensual em outras, o filme trabalha com climas e sentimentos, bastante beneficiado pela fotografia de Jacques Cheuiche e pela atuação das atrizes Ana Lúcia Torre e Denise Weinberg.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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