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Cinema, cultura & afins

Opinião|Diário da Mostra: Claudia *

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Uma carreira tão bem-sucedida e diversificada como a de Claudia Cardinale nos permite escolher apenas alguns pontos marcantes de sua trajetória e deixar de lado o resto. Qualquer um dos seus grandes papeis bastaria para preencher uma biografia de atriz.

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Por exemplo, vamos imaginar que Claudia só tivesse feito a Angelica Sedara de O Leopardo, de Luchino Visconti. Já não estaria na história do cinema? Ou alguém se esquece do baile na casa do Príncipe Salina, ela nos braços do noivo, Tancredi (Alain Delon)? Aos olhos do comunista Visconti, Claudia representava a burguesia em ascensão, prestes a substituir a aristocracia decadente. Angelica era intensa, bela, e vinha de uma família endinheirada. O baile é uma das maiores sequências do cinema e, sem Claudia, é impensável.

Mas, se ficássemos apenas nesse papel, omitiríamos a Sandra de Vagas Estrelas da Ursa, também de Visconti. Sandra com seu vestido branco, estonteante, uma presença em que a beleza faz contraponto com a dramaticidade sob o som do Prelúdio, Coral e Fuga de César Frank.

Há também a Claudia diáfana de 8 e ½, de Federico Fellini. Nessa elaboração da dúvida de um cineasta, que é 8 e ½, há várias figuras femininas. A esposa, Anouk Aimée. Ao seu lado, a beleza um tanto vulgar da amante, vivida por Sandra Milo. Mas, a tantas, La Cardinale entra em cena, com seu próprio nome, Claudia, para evocar em Guido Anselmi (Marcello Mastroianni) algo a que ele aspira, mas nunca terá: a beleza mesclada à pureza, o sacro e o profano resumidos numa mulher cujo nome é mistério. Não passa, tudo somado, de uma breve aparição, um passeio de carro com o protagonista, mas que marca o filme de Fellini de modo indelével.

Ela é estupenda também como Aída em A Moça da Valise, de Valerio Zurlini, um dos mais belos filmes jamais feitos. Aída é uma garota de província seduzida e abandonada por um jovem rico, Marcello. Vai à procura dele, em sua casa, mas quem a atende é um garotão, Lorenzo, vivido pelo francês Jacques Perrin, que fica comovido pela beleza e angústia da moça. Não se fica indiferente a um filme como esses ou a um trabalho como o de Claudia.

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A verdade é que a tunisiana Cardinale tem a felicidade de chegar ao auge de sua carreira durante a grande fase do cinema italiano, entre os anos 60 e 70. Trabalha com Fellini, Visconti, Zurlini, mas também com Pietro Germi, Sergio Leone, Mauro Bolognini e Luigi Comencini. Faz também carreira internacional com Blake Edwards, Claude Lelouch, Henri Hathaway. Mas são aqueles papeis nos grandes filmes italianos que a imortalizam.

* Texto sobre Claudia Cardinale, que está em São Paulo, a convite da Mostra

 

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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