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Cinema, cultura & afins

Opinião|Diário da Mostra 2011: Low Life

Em Low Life, parceria entre Nicolas Klotz e Elizabeth Perceval, temos uma história de amor e rebeldia ambientada na França pós distúrbios da periferia e imersa agora nas questões raciais. Tema político de um casal de longa parceria artística, que havia já produzido o extraordinário A Questão Humana, um dos melhores filmes políticos da década.

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

A linha não está de todo ausente nesta nova produção. Se em A Questão Humana a questão era aproximar o ideário nazista do comportamento das corporações contemporâneas, agora o desafio é ver como a intolerância com os imigrantes causa efeitos deletérios na própria população francesa. O caso, aqui, é de um triângulo amoroso entre a jovem Carmem, Charles e Hussain, um poeta afegão, que vive sem documentação regular. Carmem começa uma relação intensa com Hussain, mas o casal é atormentado pela prisão e deportação iminentes do rapaz. O quadro de fundo é uma série de protestos dos jovens contra um status quo um tanto indefinido e o elogio à vida comunitária, à la anos 1970.

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Perpassa, de fato, pelo filme, aquela atmosfera tão bem captada por Bernardo Bertolucci em sua evocação do maio de 1968, Os Sonhadores. Mas, se em Bertolucci essa recordação tinha um lado luminoso, embora trágica em seu desfecho, a proposta de Klotz e Perceval não vai além de um tom obscuro, a marcar os dramas precoces daquelas vidas jovens.

Não falta encanto ao filme, prejudicado, no entanto, por um tom um tanto solene dos diálogos e de sua concepção visual. É feito em câmera digital e apresenta um resultado bastante escuro, em especial nas cenas noturnas, com definição inadequada.

Esse aspecto prejudica um bocado o que existe de positivo no filme. A saber, a vivacidade do elenco jovem, em especial o casal Carmem Hussain, interpretado por Camille Rutheford e Arash Naimian. No entanto, a outra ponta do triângulo, o também poeta e candidato a suicida Charles, aparece meio sem função. Sua presença destoa e acaba por abalar o drama do qual deveria fazer parte, mas no qual aparece sempre como elemento exterior.

(Caderno 2)

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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