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Cinema, cultura & afins

Opinião|Diário da Mostra 2010: Nossa Vida

Em Nossa Vida, de Daniele Luchetti, vemos uma Itália que Berlusconi gostaria de esconder. Não é o país de Michelangelo e Da Vinci, das pontes de Veneza, dos encantos da Costa Amalfitana. É a Itália dos subúrbios, da exploração e preconceitos contra extracomunitários, do trabalho ilegal,Ao mesmo tempo, é a Itália grande, da luta pela sobrevivência, do espírito forte da gente do povo. No filme entram a beleza e a feiúra, porque dessas duas linhas a vida é tecida.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Claudio (Elio Germano, Palma de Ouro em Cannes ) é empregado da construção civil. Casado, pai de dois filhos, mulher esperando pelo terceiro. Alguns acidentes de percurso mudam a vida de Claudio. Duas mortes, o jogam em outro lado da realidade. Em particular, a do mundo dos imigrantes romenos que ele, como boa parte dos italianos, olha com desdém. No processo de reconstrução pessoal de Claudio, parte da atual realidade italiana é desvendada - e, através disso, criticada.

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Não deixa de ser uma bofetada num povo orgulhoso de sua cultura milenar a constatação de uma pobre mulher: "Parece que vocês só pensam em dinheiro; toda a vida de vocês é baseada na busca do dinheiro. Para quê?". A pergunta, para Claudio, parece absurda. O que poderia haver na vida além da tentativa de enriquecer? E, no entanto...

Num estilo de filmagem próximo ao documental, contando com atores muito intensos, Luchetti desenha um retrato honesto da Itália contemporânea. Materialista, desapegada da sua magnífica cultura em nome da acumulação, corre o risco de amesquinhar-se. Ao mesmo tempo, abre-se a um multiculturalismo inevitável, que lhe desvenda horizontes e pode ser a sua salvação possível, ao contrário do que pensam as forças racistas e elitistas do país. Quem quiser conhecer a Itália atual, veja as paisagens de cartão postal. São inigualáveis. Veja também este filme.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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