VENEZA - Se havia alguma dúvida de que este 65º Festival de Veneza seria lembrado pela má qualidade da mostra competitiva, ela foi dirimida ontem com a apresentação do quarto concorrente italiano, a comédia O Sêmen da Discórdia, de Pappi Corsicato.
Um sub-Almodóvar tosco, com personagens caricatos, preconceituoso e profundamente sem graça. Conta a história de uma mulher que deseja ter um filho e se descobre grávida justo no dia em que o marido fica sabendo que ele é estéril. Deu pane na comissão de seleção?
É claro que, quando choverem as críticas, vamos ouvir a velha ladainha: "a crítica não gosta de comédia" e blá-blá-blá. Tudo papo furado. Apenas para refrescar a memória: neste mesmo festival, vimos a cópia recuperada de Toh, è Morta la Nonna, de Mario Monicelli. Uma obra-prima de ironia, corrosiva e, sobretudo, muitíssima engraçada.
A comparação da grande comédia italiana dos anos 60 e 70 com a que se faz hoje por aqui é devastadora. Não existe preconceito contra comédia. Mesmo porque, como se costuma dizer, é este o gênero mais difícil. O que existe é conceito (e não preconceito) contra filme ruim.