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Opinião|De volta às telas o matador de cangaceiros

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

O filme ganhou a Palma de direção em Cannes, foi capa da Cahiers du Cinéma, é o maior sucesso internacional do seu autor e ganhou a admiração de Martin Scorsese. Mesmo assim, o simples fato de existir é um milagre em si, quase tão grande quanto seria o retorno de Dom Sebastião. O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, o mais conhecido dos filmes de Glauber Rocha fora do Brasil, teve seus negativos originais devorados por um incêndio em um laboratório francês em 1972 e por isso ficou anos fora de circulação. Volta ao espaço público graças a um trabalhoso processo de restauração e teve sua primeira apresentação no há pouco encerrado 18º Cine Ceará. Dia 27 entra em cartaz em São Paulo, Rio e Brasília.

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Paloma Rocha, filha do cineasta e presidente do Tempo Glauber, contou que o restauro foi feito a partir de uma cópia cedida pelo produtor francês Claude Antoine. ''Mas era em versão francesa, quer dizer, dublada'', diz. A banda sonora original teve de ser obtida de outra cópia, existente em Cuba. Esse tipo de restauro é feito como um trabalho arqueológico, juntando restos de materiais; um pedaço de cópia aqui, outro ali. Para exemplificar: a um trecho em que a atriz Odete Lara canta Carinhoso, de Pixinguinha, faltava um fonema. Este teve de ser obtido, pela internet, em uma cópia que circula pela rede.

As imagens e cores exuberantes do Dragão explodiram em sua plenitude na tela do Cine São Luiz, em Fortaleza. E isso, em boa parte, porque o restauro da cor teve a supervisão do fotógrafo do filme, o diretor de fotografia Affonso Beato. Agora, ele pode voltar aos cinemas da maneira como foi concebido por seu criador, há 40 anos. Dia 23 de maio, será lançado em caixa de DVDs, junto com outros três longas do diretor: Barravento, Terra em Transe e A Idade da Terra.

Acompanhando o lançamento de Dragão da Maldade, virá o documentário da série Sertão-Glauber, com oito episódios, que serão colocados no ar pela TV Brasil a partir do dia 30. Na verdade, trata-se do documentário Milagrez, sobre as filmagens, que aparecerá como extra de Dragão da Maldade na versão em DVD.

Dragão da Maldade traz de volta o personagem Antonio das Mortes (Mauricio do Valle), surgido em Deus e o Diabo na Terra do Sol. Antonio entra em cena em contexto modernizado, onde enfrenta o cangaceiro Coirana (Lorival Paris), que se diz reencarnação de Lampião. Há também um professor sem esperanças (Othon Bastos), um coronel à moda antiga (Joffre Soares) e uma mulher doente de solidão (Odete Lara). Todos vivendo à margem do seu tempo. Isso é posto na tela com o som e a fúria próprios de Glauber, numa exuberância tropicalista que devora western spaghetti, temperando-o com cantorias nordestinas. ''É um Glauber de que gostam até os que detestam Glauber'', diz Joel Pizzini, curador do processo de restauração.

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(Caderno 2, 23/4/08)

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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