Em mais de um sentido, pois se a história começa no molde de uma comédia rasgada, logo se torna tensa em sua segunda parte e o suspense se resolve de maneira pouco habitual no desfecho. Gloria Pires, em sua melhor atuação no cinema, é Baby, que vive no apartamento herdado da mãe e dá umas aulinhas de violão. Entusiasma-se pelo novo vizinho, Max (Paulo Miklos) e iniciam um caso. Ela é fumante inveterada. Ele não fuma e faz campanha para que ela deixe o hábito. Banal? Sim e não. A história é construída a partir dessa e de outras trivialidades, e tenta mostrar que qualquer vida, qualquer relacionamento, quando vistos de perto são ricos, contraditórios, cheios de subentendidos e níveis de compreensão.
O próprio filme é construído dessa maneira. Em camadas. Por isso seria grave miopia vê-lo apenas como comédia, suspense ou discussão moral. Ele é tudo isso ao mesmo tempo. Sem fazer qualquer tipo de comparação, É Proibido Fumar funciona como alguns filmes clássicos de Dino Risi ou Mario Monicelli. Pensa e critica através do riso, mas também do suspense e da emoção. É um trabalho inteligente de som e imagens, bem construído e que pode dialogar com um público mais amplo - justamente o que anda faltando ao cinema brasileiro de qualidade.