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Cinema, cultura & afins

Opinião|Corpo

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Corpo - é esse o título do longa de estréia de Rossana Foglia e Rubens Rewald. E o corporal, o sensorial, é mesmo o que ele tem de melhor com insight cinematográfico. Nota-se, na dupla de diretores, o desejo de ascender à essa dimensão física da imagem, tão difícil de conseguir. Por momentos, toca-se essa sensorialidade. Que transita das cenas algo repulsivas do necrotério à celebração do desejo e do amor em outras seqüências. Quer dizer, do corpo morto faz-se a vida. E talvez seja esse o eixo para penetrar nos mistérios desse filme.

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Ele segue uma trama aparentemente policial, mas que não passa de uma obsessão de legista. Artur (Leonardo Medeiros) depara-se com o corpo de uma mulher, estranhamente preservado depois de anos de morta. Ela foi desenterrada com várias ossadas, numa fossa clandestina que, supõe-se, seja de vítimas da ditadura militar. E então já temos outro referencial. O do presente com o passado político do País.

Artur age como detetive. Quer saber quem é aquele cadáver, livre de corrupção, que aparece com as ossadas. Para tal, enfrenta a tarefa de devassar os arquivos do Dops atrás de informações. Mas enfrenta também a oposição de sua chefe, a dra. Lara (Cris Couto), que faz tudo para encerrar o caso burocraticamente. Esse antagonismo é um clichê do cinema de investigação. Alguém que deseja saber a verdade contra outro alguém que, por preguiça, covardia ou cumplicidade, quer encobri-la. É um lugar-comum que, por persistente, enfraquece o projeto e trunca sua fluência narrativa.

E há o resto, porque as etapas de investigação de Artur, e as idas e vindas no tempo, não deixam de provocar certo suspense. Se bem que, tanta indeterminação e tanta ambigüidade, em especial na segunda metade, parecem uma sobrecarga excessiva. O processo de descobrimento fica por fazer e nem é esse o problema, pois a 'verdade' é sempre hipotética mesmo. O problema é com a verossimilhança, que ajuda até num universo mágico ou fantástico, e aqui se perde um pouco na fumaça. Ou no formol

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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