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Opinião|Condor no ar

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Quem se interessa pela volta ao foco da Operação Condor com o pedido de extradição de brasileiros nela envolvidos por juízes italianos, deve saber que há um filme, ainda inédito, que trata da questão. Chama-se Condor, já participou de alguns festivais e é dirigido por Roberto Mader. Estréia em 2008. Abaixo, com algumas alterações, o post que escrevi na ocasião em que o documentário concorreu no Festival de Gramado.

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O título se refere à chamada Operação Condor, "convênio" entre as várias ditaduras do Cone Sul, durante os anos 70, para troca de informações e troca, também, de prisioneiros. Ficou famosa uma das operações Condor, a prisão em Porto Alegre dos uruguaios Liliam Celiberti e Univercindo Diaz, operação denunciada por repórteres da revista Veja e que dessa maneira salvaram a vida dos dois. Com 1h45, o documentário apresenta um painel bastante amplo dos acontecimentos daqueles anos.

O filme tem importância histórica indiscutível. Contribui para recuperação de um dos aspectos negligenciados do período, a solidariedade policial entre as ditaduras. E também da questão da responsabilidade dos atores sociais quando a história virou. Em países como Argentina e Chile, ex-ditadores como Videla e Pinochet foram processados e presos. No Brasil, optou-se por uma transição pacífica. Um depoimento interessante no filme é o do coronel Jarbas Passarinho, a respeito da anistia brasileira, citando o então presidente-general João Batista Figueiredo. "Não se fala em perdão, porque perdoar significa reconhecer um erro; significa esquecer". Ora, quando se filma ou documentário sobre o assunto, ou se escreve um livro, o que se tem é a memória, o contrário do esquecimento.

Foi nesse sentido a intervenção de Liliam Celiberti no debate do filme no Festival de Gramado, realizado em agosto. "Não podemos pensar no futuro sem recuperarmos e levarmos em conta o passado". Para Liliam, sabemos ainda muito pouco daquela época, temos impressões gerais, mas os detalhes ainda estão por serem levantados. "E, sobretudo, há um grande desconhecimento daquela época por parte das novas gerações, que não a viveram". Em boa medida, os arquivos brasileiros daquele período histórico continuam fechados. A sociedade quer saber? Ou prefere ignorar.

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Observo que argentinos, chilenos e uruguaios, entre outros povos, têm fome de conhecimento histórico. Já no nosso caso, tenho cá minhas dúvidas.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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