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Opinião|Companheiro Presidente

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Não sei se ainda dá tempo. Mas gostaria de fazer outra menção sobre a Mostra Miguel Littín no SPcine Play. Destacaria, também, o excelente documentário Companheiro Presidente, um diálogo (mais do que entrevista) entre o então recém-eleito presidente Salvador Allende e o filósofo francês Régis Debray. Debray havia participado com o Che Guevara da guerrilha boliviana. Foi preso e acabou libertado por pressão internacional. Em 1971, ele fala com Allende, que estava há uns três meses no cargo. É uma conversa de alto nível, sem tergiversações ou afagos, embora sinta-se que a admiração é recíproca. 

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Debray aponta que o novo governo chileno seria reformista e não revolucionário, embora dirigido por um marxista. Allende defende as vertentes revolucionárias do seu governo, embora trabalhando dentro das instituições. Meses depois desse encontro, Allende já havia nacionalizado bancos e minas de cobre entre outras companhias, selando seu destino. Cairia em 1973, sob o golpe de direita liderado por Pinochet e apoiado pelos Estados Unidos. 

Em certo momento do filme, Gabriel García Márquez lê um trecho de sua autoria sobre o presidente. São linhas preciosas, que transcrevo a seguir: 

"(Allende) amaba la vida, amaba las flores y los perros y era de una galantería un poco a la antigua, com esquelas perfumadas y encuentros furtivos. Su virtud mayor fué la consecuencia, pero el destino le deparó la rara y trágica grandeza de morir defendiendo a bala el mamarracho anacrónico del derecho burgués, defendiendo una Corte Suprema de Justicia que lo había repudiado y había de legitimar a sus asesinos, defendiendo un Congreso miserable que los había declarado ilegítimo pero que había de sucumbir complacido ante la voluntad de los usurpadores, defendiendo la libertad de los partidos de oposición que habían vendido su alma al fascismo, defendiendo toda la parafernalia apolillada de un sistema de mierda que él se había propuesto aniquilar sin disparar un tiro. "

Que texto, hein? La puta madre!

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(Como referência, esse trecho pertence a um texto mais amplo de Gabo chamado Chile, el Golpe y los Gringos). 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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