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Opinião|Coisas do Lewgoy

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
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Eu Eu Eu José Lewgoy é o ótimo título encontrado pelo documentarista Cláudio Kahns para o filme sobre um dos atores mais marcantes do Brasil recente. Lewgoy era mesmo egóico. Dizem os detratores (que não eram poucos) que tinha apenas um assunto de predileção: ele mesmo. Daí o eu, eu, eu. Dizem também - e isto está no filme - que quando lhe jogaram na cara esse vício de linguagem, Lewgoy vingou-se e passou a se referir a si mesmo na terceira pessoa, como Pelé. "O Lewgoy fez isso, o Lewgoy fez aquilo". Irritados, os amigos perguntaram por que havia adotado o plural majestático. Respondeu: Ora, vocês me criticaram dizendo que eu só falava de mim mesmo, agora me criticam porque estou falando de um outro". E ponto final.

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Esse era o Lewgoy anedótico, com o qual talvez fosse muito difícil conviver. O Lewgoy público, vamos dizer assim, era outra coisa. Uma figura amada e conhecida do grande público. Um ator intelectual, espécime raro no Brasil. Um talento raro em cena. Alguém que jamais assumia o papel de coadjuvante, pois sempre que entrava em cena, por mínima que fosse a sua participação, tornava-se protagonista.

Com bastante material à disposição, imagens e histórias a contar, e também com muitas entrevistas com colegas e amigos, Kahns reconstrói essa vida singular. O filme revive trechos dos trabalhos mais representativos do ator; cenas de suas principais participações em quase 30 anos de permanência na TV Globo, no teatro e no cinema. Curiosidades e excentricidades de sua vida, relatadas por sua família, amigos e personalidades que trabalharam com ele, como Tônia Carrero, Millôr Fernandes, Chico Caruso, Gilberto Braga, Luis Fernando Veríssimo, Anselmo Duarte, Glória Pires, Guilherme de Almeida Prado, Sérgio Augusto entre outros.

Vemos cenas pinçadas de 30 anos de trabalho na Globo e dos inúmeros filmes dos quais participou. Kahns filmou em Yale e Nova York, nos EUA, país onde Lewgoy iniciou a carreira. E conta com um magnífico depoimento de Werner Herzog, o diretor alemão que teve Lewgoy no elenco de Fitzcarraldo.

Um dos (vários) méritos do filme é captar essa figura multifacetada, com ternura, mas sem se preocupar em ser hagiográfico, como é moda em documentários sobre pessoas famosas no Brasil. Ganha a memória de Lewgoy, que era homem contraditório a ponto de declarar que seu maior papel no cinema foi em Ibrahim do Subúrbio, esquecendo-se da extraordinária composição de Vieira, o demagogo populista que o celebrizou em Terra em Transe, obra-prima de Glauber Rocha. Coisas do Lewgoy.

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O filme estreia na próxima sexta-feira, dia 25.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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