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Opinião|Club Sandwich, rito de passagem original

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
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Club Sandwich é feito para ser saboreado com lentidão e gosto. O filme mexicano, mas de estilo uruguaio, mostra o relacionamento de uma mãe e seu filho adolescente durante uma temporada de férias de verão.

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Héctor (Luicio Giménez Cacho) e Paloma (Maria Renée Prudencio) vão passar uns dias em um hotel semideserto e meio decadente, apenas porque as diárias estavam em promoção. Há um relacionamento muito próximo entre os dois, que passam os dias na piscina e dormem no mesmo quarto. Ela lê um livro e ele ouve música em seus fones de ouvido. No entanto, a atmosfera sugere algo de incestuoso, com a iniciativa partindo da mulher. Mas tudo é tratado com muita delicadeza.

O elo entre os dois se rompe quando chega outra família ao hotel. Um casal um tanto assimétrico, pois o homem é muito mais velho, com uma filha adolescente, Jazmin (Danae Reynaud), da idade aproximada de Héctor.

Temos aí a situação clássica em que o laço incestuoso pode se quebrar pela intromissão de um elemento exterior. No caso, uma extrovertida garota mexicana que se interessa pelo tímido Héctor.

O diretor Fernando Eimbcke (o mesmo de Temporada de Patos, 2004) dirige à maneira uruguaia, como já se disse. Tramas pequenas, poucos personagens, ambientação sóbria, silêncios, reticências, subentendidos, câmera sem movimentos bruscos. É um tipo de cinema que parece despojado, e até demais, em especial para um público que já espera tudo entregue de bandeja e mastigado. Este tipo de filme, pelo contrário, pede algum envolvimento, alguma ajuda do receptor na construção dos personagens e situações. Muito fica por preencher pela imaginação. Vale dizer que é um tipo de cinema da contramão, colocado em via contrária de um tempo do excesso e da repetição.

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A ideia de Eimbcke é acompanhar esse rito de passagem da adolescência para a vida adulta por um ângulo original. De modo geral, os pais têm a ilusão de que facilitam o crescimento dos filhos. Não é raro que se dê o contrário, e qualquer tentativa de autonomia seja abortada ou reprimida. É o caso de pais severos demais, para os quais nenhum namorado é bom o suficiente para as filhas. Na verdade, eles não têm intenção de deixá-las partir do clã.

Em Club Sandwich, a situação é ainda mais sutil. Paloma é uma mulher jovem e bonita. Pelo que se vê, está separada do marido. As férias podem ser vistas como tentativa de reaproximação com o filho. Mas, como se disse, a carga erótica, por sutil que seja, está sempre presente. A questão, para Héctor, será se livrar da mãe (de quem gosta muito) e se tornar disponível para o mundo. Ou seja, para a desejável Jazmin. Não é uma tarefa fácil.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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