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Opinião|Cinema turco no CCBB

O texto abaixo é sobre a mostra do cinema turco promovida pelo Centro Cultural Banco do Brasil. Veja aqui a programação.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
 Foto: Estadão

Durante muito tempo - e ainda assim apenas para entendidos - o cinema turco se resumiu a O Caminho (Yol), de Yilmaz Güney, vencedor do Festival de Cannes de 1982. Depois de longo hiato, em que o cinema turco sumiu das telas, o bloqueio foi furado recentemente com 3 Macacos, de Nuri Bilge Ceylan, que chegou ao circuito comercial brasileiro. É, portanto, uma cinematografia que aparece por exceções. Daí a importância da mostra Tempos e Ventos - Viagem pelo Cinema Turco, que começa hoje no Centro Cultural Banco do Brasil e prossegue até o dia 6 de março.

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Essa mostra compacta (dez filmes) é composta, portanto, por raridades, como a Trilogia Yusuf, do diretor Semih Kapanoglu, que acompanha a trajetória de um poeta em ordem cronológica inversa - isto é, indo da maturidade à infância. Os filmes são Ovo, Leite e Um Doce Olhar, este último vencedor do Urso de Ouro em Berlim em 2010. A mostra vai desses títulos contemporâneos até outros mais antigos, como o hoje considerado clássico Verão Seco (1964), de Metin Erksan, também vencedor em Berlim.

Seria já importante se exibisse apenas os filmes de Yilmaz Güney (1937-1984), considerado o mais importante diretor do país. Güney foi um ativista político de esquerda e, perseguido por suas ideias, passou boa parte da vida na prisão. Dirigia seus filmes atrás das grades, passando informações precisas aos assistentes.

Dessa circunstância - e sobretudo graças à qualidade da obra - nasce o impacto de Yol, que apareceu em Cannes como "filme surpresa" e comoveu o público numa época ainda politizada. Yol traça um retrato cruel da sociedade turca, autoritária com os homens e preconceituosa com as mulheres. A história mostra cinco prisioneiros libertados e suas dificuldades em retomar a vida. A cena mais famosa é a do marido, que "deve" matar a mulher porque supostamente ela o traiu enquanto ele estava na prisão, tentando salvá-la de morrer congelada na neve. Quem viu essa sequência não a esquece jamais. De certa forma, ela resume o estilo bastante peculiar de Güney, original ainda que influenciado pelo neorrealismo italiano. Dele, também será visto Esperança, de 1970, inédito no Brasil. ?

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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