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Cinema, cultura & afins

Opinião|Cinema e guerra

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Cinema e Guerra, ciclo da Caixa Cultural São Paulo, de hoje a 17, reúne nada menos que 33 filmes desse gênero. Gênero? Sim, como todos sabemos, cabe ao cinema (à arte, em geral) tirar o melhor do pior. Todos concordamos que a guerra é a mais horrível situação em que o homem pode se meter. Mas também sabemos que essa mesma contingência fornece ótimos ambientes dramáticos para obras de ficção. Basta pensar nos três primeiros filmes que abrem hoje a mostra - O Grande Ditador, Glória Feita de Sangue e Patton.

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No primeiro, uma sátira, com final cheio de esperança, de Chaplin, lançada em 1940, no início da 2ª Guerra Mundial, quando seu desfecho era uma incógnita. No calor da hora, Chaplin ironiza Hitler e Mussolini e produz uma das seqüências antológicas da história do cinema com o ditador brincando com o balão em forma de globo terrestre.

Com Glória Feita de Sangue, Stanley Kubrick aborda dilemas morais em situações-limite na história do general Broulard, que ordena um ataque suicida a uma fortificação alemã durante a 1ª Guerra. Já Patton - Rebelde ou Herói, de Franklin J. Schaffner, retrata o oficial tão controverso que era admirado pelo inimigo e hostilizado pelos aliados. Também se passa na 2ª Guerra Mundial, ambiente majoritário dos filmes do gênero. Essa preferência dos cineastas se reflete na escolha das obras para a mostra - das 33 selecionadas, nada menos que 12 referem-se ao mais sangrento conflito do século passado.

Com boas razões, em todos os níveis. Não precisamos ser historiadores para saber que, em boa parte, o mundo em que vivemos foi moldado pelos desdobramentos da 2ª Guerra Mundial (1939-1945). Dela saíram a partilha do mundo, a Guerra Fria, conflitos localizados como a Guerra do Vietnã e a do Golfo, a tensão Leste-Oeste...e mais a queda do Muro e a dissolução da União Soviética - enfim, o nosso mundo. Saíram também da 2ª Guerra algumas obras-primas do cinema como Roma - Cidade Aberta, o manifesto do neo-realismo dirigido por Roberto Rossellini, e Hiroshima, Meu Amor, de Alain Resnais. Sem ser uma grande obra, Casablanca, com o amor de Humphrey Bogart e Ingrid Bergman tendo a guerra como pano de fundo, tornou-se um dos filmes mais estimados de todos os tempos.

As outras carnificinas não deixaram de ser inspiradoras, como provam as obras vinculadas ao Vietnã - Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola, M.A.S.H., de Robert Altman e Corações e Mentes, de Peter Davis. A paranóia nuclear gerada pela tensão entre Estados Unidos e União Soviética deu origem a uma sátira tão inspirada quanto Doutor Fantástico, de Kubrick. Já a luta de independência da Argélia inspirou um filme de ficção tão forte que parece documental - A Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo.

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Na tela, a guerra dá certo. Só na tela.

Serviço

O Cinema e a Guerra. Hoje, 14 h, O Grande Ditador (1940), de Charlie Chaplin; 16 h, Glória Feita de Sangue (1957), de Stanley Kubrick; 18 h, Patton (1970), de Franklin J. Schaffner. Caixa Cultural - Sala de Cinema. Praça da Sé, 111, tel. 3321-4400. De 3.ª a dom. Grátis. Até 17/8

(Caderno 2, 5/8/08)

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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