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Opinião|Cine PE 2016: Guerra do Paraguay, entre a arte e a política

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

RECIFE - Uma bela noite de cinema político - e experimental - com Guerra do Paraguai, de Luiz Rosemberg. O longa, tecido em preto e branco, começa em tom brechtiano. Mulheres puxam uma carroça por uma estrada baldia. A sequência é longa. Evoca, talvez, Mãe Coragem, de Brecht e, de fato, estamos em condição de guerra. No caso, a do Paraguai, do genocídio do povo paraguaio que passa por nossa maior façanha bélica. Evoca, claro, Cavalo de Turim, de Bela Tarr.

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O longa, fora as sequências de abertura e encerramento, tem estrutura teatral. Seu cerne é o diálogo entre um soldado que volta do campo de batalha e uma atriz de teatro mambembe, uma das que puxavam a carroça nas imagens de início. O encontro se dá num limbo temporal. O homem vem do século 19, a mulher é contemporânea.

Nesse diálogo, há uma clara oposição entre a barbárie e o humanismo. O soldado justifica a violência da guerra. A mulher defende a paz, a tolerância, a compreensão mútua. Não existe ingenuidade no que dizem. Os argumentos são sustentados com sabedoria.

Mas há outra personagem em cena - a bela irmã da protagonista, uma garota deficiente, que não fala e nem consegue se alimentar sozinha. Mas, como é muito atraente, desperta o desejo do soldado. Está sempre lá, como figura de fundo, a evocar a sensualidade do combatente.

O desfecho surpreende e choca. Rosemberg usa imagens documentais (convém não dizer quais são, para não estragar expectativa). O filme possui força e causa impacto. As longas cenas teatrais mostram-se exigentes para com o espectador. Mas este é recompensado do eventual esforço que tenha para seguir o embate intelectual entre as duas partes.

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No fundo, é o diálogo sempre problemático e áspero entre a política e a arte. Aquela com suas "razões de estado", que justificam qualquer violência; esta com o sentido de utopia que a caracteriza. Desnecessário dizer o quanto o filme se tornou atual, e como a Guerra do Paraguai parece acontecer neste exato momento da vida nacional.

Curtas. Soberanos do Congo (PE), de Raoni Moreno mostra a resistência dos afrodescendentes em Pernambuco através de sua cultura ancestral. Tem imagens bonitas e é informativo, peca, no entanto, por seu caráter muito didático com narração em off.

Já Das Águas que Passam (ES), de Diego Zon, vai no sentido inverso e aposta na força das imagens que falam por si, com o homem entre céu e mar. Um belo estudo visual.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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