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Opinião|Cine OP. Público diverte-se com 'É um Caso de Polícia!'

Cine OP apresenta cópia restaurada de 'É um Caso de Polícia', comédia de Dias Gomes com Glauce Rocha, que nunca teve lançamento comercial

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Atualização:

Glauce Rocha em 'E um caso de Polícia!, de Carla Civelli Foto: Estadão

OURO PRETO/MG Ontem vimos É um Caso de Polícia!, comédia policial de Carla Civelli (1921-1977). Quem trouxe a cópia restaurada ao festival foi Patrícia Civelli, filha do produtor ítalo-brasileiro Mario Civelli e sobrinha de Carla.

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O filme tem uma peculiaridade. Nunca foi lançado de forma comercial e sua cópia havia sumido até reaparecer em 2003, mas em más condições técnicas.

Esta que vimos aqui em Ouro Preto está como nova. É nova, de fato, graças ao dedicado trabalho de Chico Moreira, grande profissional da restauração cinematográfica, que nos deixou ano passado. "Com o trabalho do Chico, o filme aparece na tela como jamais havia sido visto", diz Patricia.

Ela assistiu emocionada à sessão no Cine Vila Rica, ontem à tarde. Emoção justificada, pois era não apenas um filme antigo que ressurgia, mas uma obra que batia na tela como nova e era seguida com interesse e risos pelo público de Ouro Preto.

Era um público "normal", diga-se de passagem. Com isso quero dizer que não era desses públicos um tanto dirigidos, digamos assim, formados por críticos, pesquisadores e outros profissionais do ramo. Não. A maioria era formada por espectadores que tinham ido ao cinema apenas para curtir um filme programado pelo festival. Divertiram-se, e este era o objetivo do filme, dirigido por Carla, que nasceu em Milão, emigrou para o Brasil, aqui trabalhou e morreu.

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Há nos créditos gente muito conhecida, a começar pelo roteirista, Dias Gomes, e pela atriz principal Glauce Rocha. Além deles, Sebastião Vasconcellos e Renato Consorte que também tiveram carreiras significativas. A Dias Gomes devemos a trama ardilosas, que deixa o espectador na incerteza até o desfecho. A Glauce, credite-se o frescor de uma personagem frívola, que deseja ser famosa e sair nos jornais, para desespero do noivo. Um dia, num bar, ela ouve dois homens planejarem o assassinato de uma certa Susana e resolve interferir. Por obrigação moral e também porque impedir um crime pode levá-la à fama desejada.

A história às vezes é meio ingênua, com alguns diálogos um tanto démodés e outros percalços, mas tem sua graça. O ritmo é bom e a noção de síntese contribui para que o interesse do público não se disperse. No final da trama rocambolesca, vieram os aplausos da plateia que retribuía a diversão recebida.

Alguém já disse que todo filme de ficção antigo é um documentário atual do tempo em que foi feito. Com É um Caso de Polícia! vemos imagens de um Rio de Janeiro que não existe mais. Praias semidesertas em Ipanema e Leblon, vistas da Gávea, São Conrado e a paisagem sem a Rocinha, que ainda não havia se estabelecido no morro. E também um jeito de andar, falar e vestir-se.

Grande parte das cenas foi filmada na mansão do prefeito Pereira Passos, responsável por uma polêmica reurbanização do Rio no início do século 20. Governou de 1902 a 1906, abriu grandes avenidas, demoliu muita coisa e quase extinguiu o Rio colonial. A casa em que vivia seria demolida um ano após as filmagens e serve para mostrar que o antigo prefeito morava muito bem.

É um Caso de Polícia! é um filme engraçado e agradável de ver. Como documento é precioso e, restaurado com capricho para a exibição em DCP, apresenta-se legível aos contemporâneos. Essas obras funcionam como mensagens na garrafa atirada ao mar; são recados do passado para o presente. Vale a pena tentar ler o que dizem.

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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