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Cinema, cultura & afins

Opinião|Cine OP 2018: Homenagem a Maria Gladys

Mostra de Ouro Preto começou ontem com a entrega do Troféu Barroco para a atriz Maria Gladys, uma das musas do cinema de invenção que se fazia no Brasil no tempo da ditadura militar

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
 Foto: Estadão

 

OURO PRETO

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Virando a chave, saio de Curitiba e entro de cabeça no Cine OP, em Ouro Preto. A abertura, ontem no Cine Vila Rica, teve homenagem à atriz Maria Gladys, uma das musas do assim chamado "cinema marginal". Aplaudida em pé por vários minutos, Gladys falou muito bem. Lembrou a época difícil da ditadura, o exílio em Londres, o tipo de cinema de que participou. Encerrou a fala com um "Lula Livre", que contagiou a plateia.

Foi um belo início, que teve também música, textos (de Torquato Neto) e toda uma invocação cênica à temática deste ano, e que explica também a homenagem a Maria Gladys: o Tropicalismo, movimento que, à sua maneira, resistiu esteticamente à ditadura, e abriu novos caminhos para as artes do País. Mesmo quando seus principais artistas se viram obrigados a buscar refúgio no exterior, como Gilberto Gil e Caetano Veloso, e o cineasta Neville D'Almeida, presente em Ouro Preto e um dos que entregaram o Troféu Barroco a Gladys, junto com o também diretor Geraldo Velloso. 

Em seguida, foi exibido um dos filmes emblemáticos do movimento - Sem Essa, Aranha, de Rogério Sganzerla, com Maria Gladys e Helena Ignez contracenando com Jorge Loredo, o Zé Bonitinho, e mais as presenças musicais (e cênicas) de Luiz Gonzaga e Moreira da Silva. Na tela, um jorro de imagens aparentemente caótico, que tenta responder a irrespondível questão: que país era aquele?

A perplexidade desesperada do final dos anos 1960 e 1970 encontra eco na realidade brasileira contemporânea. Tão diferente em muitos aspectos, tão parecida em outros, em especial, na carnavalização institucional que procura uma aparência de normalidade dentro da exceção.

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Hoje, pela manhã, o seminário Vanguarda Tropical: O Cinema e as Outras Artes discutirá esta e outras questões. Na mesa, os professores Celso Favaretto, Ivana Bentes e João Luis Vieira, mediados por Lila Foster. Começam os debates do Cine OP em meio às exigências da Copa do Mundo. Haja fôlego!

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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