Essa busca pelo diferente dá-se em dois níveis. Primeiro, pelo recorte ibero-americano, que privilegia títulos desprezados pelos distribuidores patrícios. Pudemos assim descobrir pérolas como o mexicano Alamar e o espanhol A Mulher sem Piano, que dificilmente chegarão ao circuito brasileiro, tolamente orgulhoso de ser um dos mais diversificados do mundo. Segundo, por um diálogo intenso com os institutos de cinema de Cuba, ou seja, o Icaic (Instituto Cubano del Arte y Industria Cinematograficos), e a Escuela de Cine y TV de San Antonio de los Baños. Wolney Oliveira, o diretor do festival, lá estudou. Só para avaliar a participação da Escuela no Cine Ceará, basta mencionar que nada menos que três longas são dirigidos por ex-alunos - El Último Comandante (Vicente Ferraz), O Amor e Outros Demônios (Hilda Hidalgo) e Memória Cubana (Alice Andrade). Daniel Diaz Torres, diretor de outro concorrente, Lysanka, é professor da Escuela.
Além disso, um grupo local, de jovens que formam a cooperativa Alumbramento, tomou de assalto o Cine Ceará. Além do notável longa-metragem Estrada para Ythaca, apresentou vários curtas-metragens na mostra competitiva, como A Amiga Americana, Cidade Desterro e Supermemórias. São projetos de risco, inovadores, preocupados com a pesquisa da linguagem cinematográfica.
Ou seja: o cinema não se resume à monotonia da distribuição comercial. O novo existe. Só precisa de oportunidades para aparecer.
(Caderno 2, 1/7/10)