PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Cinema, cultura & afins

Opinião|Cine Ceará: para que o novo apareça

FORTALEZA - A ideia de festivais como o Cine Ceará é propor alternativas à mesmice do circuito exibidor. Não está sozinho nessa missão. No amplo leque de festivais de cinema que formam o calendário brasileiro, cerca de 200, segundo as últimas estimativas, muitos se conformam em repetir títulos já batidos, ou apresentar "mais do mesmo", produções que se acomodam na monotonia temática e estética palatável ao grande público. Mas festivais como o de Tiradentes e Brasília, para citar apenas dois, apostam no novo e no imprevisível, assim como o de Fortaleza.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Essa busca pelo diferente dá-se em dois níveis. Primeiro, pelo recorte ibero-americano, que privilegia títulos desprezados pelos distribuidores patrícios. Pudemos assim descobrir pérolas como o mexicano Alamar e o espanhol A Mulher sem Piano, que dificilmente chegarão ao circuito brasileiro, tolamente orgulhoso de ser um dos mais diversificados do mundo. Segundo, por um diálogo intenso com os institutos de cinema de Cuba, ou seja, o Icaic (Instituto Cubano del Arte y Industria Cinematograficos), e a Escuela de Cine y TV de San Antonio de los Baños. Wolney Oliveira, o diretor do festival, lá estudou. Só para avaliar a participação da Escuela no Cine Ceará, basta mencionar que nada menos que três longas são dirigidos por ex-alunos - El Último Comandante (Vicente Ferraz), O Amor e Outros Demônios (Hilda Hidalgo) e Memória Cubana (Alice Andrade). Daniel Diaz Torres, diretor de outro concorrente, Lysanka, é professor da Escuela.

PUBLICIDADE

Além disso, um grupo local, de jovens que formam a cooperativa Alumbramento, tomou de assalto o Cine Ceará. Além do notável longa-metragem Estrada para Ythaca, apresentou vários curtas-metragens na mostra competitiva, como A Amiga Americana, Cidade Desterro e Supermemórias. São projetos de risco, inovadores, preocupados com a pesquisa da linguagem cinematográfica.

Ou seja: o cinema não se resume à monotonia da distribuição comercial. O novo existe. Só precisa de oportunidades para aparecer.

(Caderno 2, 1/7/10)

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.