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Opinião|Cine Ceará 2021: Perfume de Gardênias, o humor da morte

 

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
 Foto: Estadão

FORTALEZA - Com a comédia/drama de humor negro Perfume de Gardênias, de Porto Rico, o Cine Ceará apresentou ontem à noite o penúltimo filme da competição ibero-americana. O último, A Praia do Fim do Mundo, de Petrus Cariry, será exibido hoje no Cineteatro São Luiz, no centro da cidade. Amanhã ocorre a premiação, seguida da projeção de Marinheiro das Montanhas, de Karim Aïnouz, fora de concurso. 

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A história de Perfume de Gardênias é a de uma velha senhora que perde o marido e fica sem grande coisa para fazer na vida. A maneira caprichada e criativa com que organiza o velório do marido chama a atenção de uma amiga. Acha que podem fazer bons negócios explorando o talento, digamos assim, funerário de Dona Isabel (Luz Maria Rondón, ótima). A empresa progride e passa a diversificar atividades. 

O filme é típico do humor negro, investindo no que, paradoxalmente, existe de engraçado na lida com a morte. (Em sua História da Morte no Ocidente, o historiador francês Philippe Ariès já havia detectado essa necessidade do humor ligado à morte, como maneira de lidar com a nossa finitude). 

"Através do humor, queria chegar a outras emoções", disse a diretora Macha Colón em entrevista via Zoom. Também disse que queria destacar esse lado suave do Caribe, que é o de fazer piada com todas as coisas, o que torna a vida (às vezes muito dura) em algo mais suave. 

A estética do filme, no entanto, não ajuda. Tudo parece um tanto antiquado, mesmo quando aborda temas atuais, como a questão LGBT. A música é excelente, mas seu excesso não contribui muito para a eficácia da obra. Tem raros momentos de fato engraçados, embora jogue com certa desenvoltura nas passagens entre drama e comédia, fronteira muito fina. O que um mestre como Buñuel fazia como ninguém, aqui se torna algo um tanto pesado. 

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CURTAS

Mar Concreto, de Julia Naidin, trabalha com fotos fixas sobre a questão da erosão marinha numa praia do litoral fluminense. As fotos são tiradas, ao longo de anos, pela moradora de uma casa ameaçada pelo avanço das águas. A narração é da própria cineasta. São opções corajosas, que, uma vez assumidas, funcionam bem. A história atrás do drama ecológico fica implícita. São opções políticas e econômicas que colocam em risco a estabilidade de várias comunidades. 

Como Respirar Fora d'água, de Júlia Fávero e Victória Negreiros. Conta a história de uma adolescente negra, atleta e vítima de uma agressão. O conflito entre a necessidade de concentração que o esporte exige e o trauma recente colocam a garota em crise. O pai é policial, o que dá um adicional crítico maior à história. Muito bem engendrada. 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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