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Opinião|Cine Ceará 2018: Diamantino bom de bola

'Diamantino' traz personagem inspirado em Cristiano Ronaldo para criticar a sociedade do espetáculo

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
 Foto: Estadão

 

FORTALEZA - Último longa da competição do 28º Cine Ceará, Diamantino, de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, causou boa impressão no público. Divertido e mesmo sarcástico em algumas passagens, provocou risos na plateia, que aplaudiu bem ao final. Diamantino já havia passado na Semana da Crítica do Festival de Cannes deste ano, tendo causado também polêmica e boas críticas. Algumas más também, é bom que se diga.

Com lançamento ajustado para o ano da Copa do Mundo na Rússia, vale-se da aura do mais midiático dos jogadores da atualidade, o português Cristiano Ronaldo, obviamente caracterizado como Diamantino (Carlotto Cotto). Este narra em off a história de sua vida e, em especial, um ponto de virada na hipotética final da Copa, quando Portugal pode se tornar campeão do mundo pela primeira vez e o craque tem o destino do país em seus pés na cobrança de um pênalti.

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Impressiona a sobrecarga de assuntos que os diretores do longa se propuseram abordar. Falam da sociedade do espetáculo e da posição atual do futebol como esporte top em nível mundial, que movimenta bilhões e transforma seus praticantes (alguns, pelo menos) em fabulosos pop stars. Fala-se também de Portugal e sua posição na União Europeia. Aborda-se corrupção, ascensão da extrema-direita, o mundo voraz da publicidade, questões de gênero. Isso sem deixar de lado certo clima de filme de espionagem e ação - e também com referências à ficção científica. Ufa!

Essa sobrecarga temática traduz-se em excesso imagético, que chega à fronteira do kitsch e às vezes a atravessa.

Mas não há como negar a graça de algumas passagens e mesmo da caracterização de conjunto de Dimantino/Ronaldo. Menos que um desmiolado, ele é um ingênuo, uma espécie de Candide dos tempos modernos. Celebridade manipulada pelas irmãs gêmeas, investigado pela Receita Federal portuguesa, Diamantino ainda encontra tempo para se perder, se reencontrar e se redimir pelo amor.

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Diamantino é filme atípico, que não se encaixa em um gênero único, embaralha todos e pousa como um ovni no panorama cinematográfico mundial, tão carente de verdadeiras novidades. Nem sempre é brilhante e, às vezes, atropela-se a si mesmo, pelo excesso. Mas não é descartável, o que já é muito na sociedade do espetáculo que se incumbe de criticar sem deixar de dela fazer parte.

Hoje à noite, no Cine São Luiz, serão entregues os prêmios desta edição do Cine Ceará.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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