Bem, falta ainda comentar o longa peruano NN, de Héctor Gálvez, que me pareceu de excelente feitura. Um esclarecimento: NN é uma sigla da medicina legal que designa as palavras latinas Non Nomine, aplicadas a corpos que não podem ser reconhecidos ou identificados. No caso, os restos mortais de um homem, morto há 20 anos, foram exumados, mas não reclamados. Como pista, apenas a fotografia de uma garota sorridente, encontrada debaixo de sua camisa. A trajetória de busca da identidade do morto põe em questão várias vidas, em especial a do legista, que atravessa um momento difícil.
Gálvez opta por uma narrativa lacunar, em que as pistas ao espectador vão sendo apresentadas de maneira muito discreta. Desse modo, a história monta-se como um quebra-cabeças. O que se tem de mais evidente é o clima, soturno, pesado, envolvendo necrotérios e pessoas atormentadas. Algo que remete, de maneira bastante evidente, ao passado político do país, com sua história de violência e intolerância política. Esse clima, Gálvez confessa, talvez seja um tanto exagerado. Em entrevista, ele admitiu que talvez devesse ter feito algo um tanto mais leve. Talvez, mas a densidade de construção do filme, sua sobriedade e mistério são, no fundo, o que ele tem de mais interessante.
Curtas. A seleção de curtas continua muito fraca, uma das piores dos últimos anos do festival, se não a pior. A exceção talvez fique por conta de Quintal, de André Novais Oliveira (MG), que coloca os próprios pais como personagens, como já o fizera em outros trabalhos. Com toques de fantástico, ele acompanha o cotidiano de um casal de idosos da periferia de Belo Horizonte. Bastante criativo. E, salve, salve, agradável de se ver.