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Opinião|''Cabra" ata os fios soltos da História

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

 

O evento mais importante do 17.º É Tudo Verdade está marcado para hoje, na Cinemateca Brasileira, onde será exibida a cópia restaurada de Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, às 14 h. Após a sessão, haverá debate com Coutinho, os restauradores Patrícia di Filippi e Lauro Escorel, e o cineasta Zelito Viana, produtor da obra.

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Por mais vezes que você tenha visto Cabra Marcado para Morrer, jamais o viu nas condições perfeitas em que será exibido. A cópia é resultado de um formidável trabalho de restauração (Leia abaixo o depoimento de Lauro Escorel), que deixou como novo um filme feito em condições difíceis e cujo percurso acidentado o tornou ainda mais precário.

E, sim, há o filme em si, já visto por algumas gerações de admiradores, que se tornou, no imaginário do cinema brasileiro, sua obra documental máxima, uma espécie de "clássico dos clássicos". Tanta reputação talvez sirva para coroar um trabalho, mas, paradoxalmente, pode embotar a sua recepção pelo efeito retrógrado da reverência. Por isso também será interessante ouvir o que Coutinho, após ter atingido o cume com o intimista Jogo de Cena, tem a dizer sobre essa obra densamente política.

A história da filmagem de Cabra daria um épico. Começa por reconstituir o assassinato do líder camponês João Pedro Teixeira, usando personagens reais na filmagem, inclusive a viúva de João Pedro, Dona Elizabeth Teixeira. Com o golpe de 1964, as filmagens são interrompidas, os integrantes da equipe fogem e Elizabeth desaparece. Dezessete anos depois, os negativos são reencontrados, a filmagem é retomada e Coutinho vai atrás dos personagens de outrora, descobrindo Dona Elizabeth no Rio Grande do Norte, sob outro nome. O filme é ato de resgate de uma saga política interrompida e de uma vida dilacerada pela voragem da História. Comovente. Lúcido. Indispensável.

Depoimento de Lauro Escorel sobre a restauração da obra:

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"Cabra Marcado para Morrer foi restauradopela equipe daCinemateca Brasileiracom supervisão técnicada Patricia di Filipi e minha .

O trabalho foi feito na resolução de 2Ke teve como principal desafiolidar com a diferença existente entre osmuitos materiaisque compõem o filme .

Originalmente o filme foi feito em 16 mm e foi ampliado para 35mm quando do seu lançamento comercial. Neste processo materiais de 35mmforam reduzidos para 16 e em seguida voltaram a ser ampliados .Estas varias geraçõesfizeram com que houvesseperda significativa na qualidadetécnica das imagensdo filme.

Ao entendermos isso, tomamosa decisão de pesquisara existência dos materiais originais . Uma vez localizadosos utilizamos como matrizes pararemontarfilme digitalmentee a partir desta nova matrizfazer o restaurodigital . Desta formaconseguimosdevolver ao filme aqualidade fotográfica que ele tinha e quehavia se perdido noprocessamentoprecário dos nossos velhos laboratórios .

O processo digital me deu especial satisfação por me permitir devolver às imagens em preto e branco feitas por Fernando Duarte para o filme de 1964todo seu esplendor . Seu domíniodostonsde cinzadentro da modéstia daquelaprodução do CPC é admirável. Vale a pena rever o filme nesta sua nova roupagem. "

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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