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Cinema, cultura & afins

Opinião|Brasília, 40

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Será um festival marcado por datas redondas - 40.ª edição e 30 anos da morte do seu fundador, o crítico Paulo Emilio Salles Gomes (1916-1977), até hoje considerado o maior pensador do cinema brasileiro. Por sorte, ou melhor, por competência e teimosia, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro poderá insistir este ano na linha de curadoria adotada há algum tempo - só aceita em concurso longas-metragens inéditos no País. Dois deles - Anabasys, de Joel Pizzini e Paloma Rocha, e Cleópatra, de Julio Bressane - foram apresentados em setembro no Festival de Veneza. No Brasil, são 0 km.

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Já os outros quatro, nem no exterior foram vistos. São eles Falsa Loura, de Carlão Reichenbach (SP), Chega de Saudade, de Laís Bodansky (SP), Meu Mundo em Perigo, de José Eduardo Belmonte (DF), e Amigos de Risco, de Daniel Bandeira (PE).

Dos seis concorrentes, fazem suas estréias em longa o pernambucano e Paloma Rocha, filha de Glauber e de Helena Ignez. Já seu parceiro em Anabasys, Joel Pizzini, concorreu várias vezes com curtas-metragens e também com o longa documental 500 Almas. Belmonte apresenta seu terceiro longa, ele que já competiu em Brasília com o polêmico A Concepção. Laís concorre com seu segundo longa-metragem, e já tem um candango (o troféu do festival) de vencedora por Bicho de Sete Cabeças, com o qual ganhou o festival de 2000. Carlão é um veterano, e faturou o primeiro lugar em Brasília com Alma Corsária, em 1993. Já Bressane é chamado de 'o senhor Brasília' ou, como ele mesmo diz, O Amado, já que venceu o festival em três ocasiões - com Tabu (1982), Miramar (1997) e Filme de Amor (2004).

Mas antes que a competição comece a rolar, hoje à noite, na tradicional abertura no Teatro Nacional Cláudio Santoro, deverá ocorrer uma sessão histórica, com apresentação do vencedor de 1967, Proezas de Satanás na Vila do Leva-e-Traz, de Paulo Gil Soares (1935-2000). Pouca gente conhece esse filme, que nunca mais foi programado pelos cinemas, não saiu em vídeo nem em DVD.

Paulo Gil teve brilhante começo de carreira no cinema, como co-roteirista e assistente de direção de Glauber Rocha no clássico Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964). É autor do brilhante média-metragem Memórias do Cangaço (1965), integrante do projeto Brasil Verdade, de Thomaz Farkas. Depois realizou Proezas de Satanás, comédia crítica, e alusivamente política, em época de ditadura militar. Mas logo trocou a carreira cinematográfica pela televisão, sendo fundador do Globo Repórter na Rede Globo. A noite inaugural de Brasília terá assim o caráter de resgate de uma obra esquecida.

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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