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Opinião|Brasília 2020 conhece hoje os vencedores

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Com a apresentação, ontem, de Ivan, o Terrirvel, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro fechou a mostra competitiva de sua 53ª edição. Hoje, às 15h, no canal do festival no Youtube, serão conhecidos os ganhadores dos troféus Candango. 

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O festival deste ano quase não aconteceu. Seu cancelamento chegou a ser anunciado. Depois voltou-se atrás e divulgou-se que o festival aconteceria, sim, só que no final do ano e em formato não-presencial. O documentarista Silvio Tendler foi chamado para o cargo de diretor artístico do evento, e uma parceria com o Canal Brasil possibilitou a transmissão. Os longas da mostra competitiva foram ao ar todas as noites, às 23h no Canal Brasil. O resto da programação foi deslocada para o streaming da emissora. 

Há, portanto, que se dar o desconto a uma mostra montada a toque de caixa para representar este que, por antiguidade e pela história, é o mais importante festival de cinema do País. 

A mostra principal foi composta por cinco documentários e apenas um longa de ficção. 

Espero que Esta Te Encontre e que Estejas Bem, de Natara Ney, tem como material deflagrador um calhamaço de cartas de amor encontrado no Mato Grosso do Sul. É um filme de busca, interessante e com momentos que podem desencadear a emoção. Ainda mais se esta estiver antenada em fatos passados, tempos idos, em gentes e um país que o vento levou. 

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A Luz de Mário Carneiro, de Betse de Paula, destaca a trajetória deste que foi um sofisticado diretor de fotografia, com trabalhos como os de Porto das Caixas, Todas as Mulheres do Mundo e O Padre e a Moça, notáveis pelo desenho visual. A base do filme é a longa entrevista em que Mário fala de sua carreira, naquele tom auto irônico que caracteriza as pessoas sábias. Material de filmagem doméstica enriquece a obra, entremeada por trechos dos filmes que Mário fotografou e do (único) longa que dirigiu, Gordos e Magros. Vale pelo personagem. 

Por onde anda Makunaíma, de Rodrigo Séllos, tenta um resgate histórico do famoso personagem da rapsódia de Mário de Andrade, "o herói da nossa gente". Para quem pensa se tratar de personagem de ficção, Macunaíma é registrado pelo etnólogo Theodor Koch-Günberg (1872-1924), há mais de um século. Está presente no imaginário de indígenas da região de Roraima. Mas, claro, foi Mário de Andrade que introduziu o personagem ao mundo branco e dominante do Brasil do século 20. Tornou-o figura, com o perdão do termo, emblemática, e inspiradora de obras de Joaquim Pedro de Andrade, no cinema, e Antunes Filho, no teatro. Macunaíma foi enredo da Portela, sambou na Sapucaí, e volta sempre que pensamos em um termo definidor do nosso povo. Portanto é sempre atual. Filme bastante interessante. 

Entre Nós Talvez Estejam Multidões, de Aiano Bemfica e Pedro Brito, entrevista moradores de uma comunidade em Belo Horizonte nas vésperas da eleição presidencial de 2018. Com uma câmera às vezes distanciada, outras próxima dos personagens, o filme procura detectar o conjunto de expectativas individuais que toma forma coletiva em determinadas circunstâncias. Uma ocupação, no caso, dando a entender que a luta é esse cimento comum que pode agregar corpos separados num todo orgânico. Dos filmes apresentados na mostra competitiva é o único que pode ser classificado de político, sem uso de aspas. 

Ivan, o Terrírvel, é um documentário de Mário Abbade sobre Ivan Cardoso, diretor de filmes como As Sete Vampiras e O Escorpião Escarlate. Ivan é criador de um gênero, o "terrir", híbrido de terror e risos, o que explica o trocadilho infame do título. Como no filme de Mário Carneiro, também aqui uma longa entrevista é que serve de ligação aos diversos pontos da biografia artística. Com uma diferença: aqui, o tratamento é ostensivamente tropicalista, com ilustrações, trechos de filmes e intervenções visuais pulando na tela enquanto se ouve a voz off do homenageado. Ivan Cardoso é engraçado, rápido, irreverente, não leva nada muito a sério - e o filme, em sua proposta estética, mimetiza esse mood. Cansa às vezes, diverte outras, mas aí já depende da disposição e do conjunto de expectativas de quem o assiste. 

O veterano cineasta Orlando Senna (diretor, junto com Jorge Bodanzky, do clássico Iracema - Uma Transa Amazônica) responde pelo único longa ficcional da mostra. Longe do Paraíso conta a história de um pistoleiro que comete um grave erro e precisa aceitar uma missão muito difícil para se redimir e salvar a pele.

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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