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Opinião|Bons filmes na Mostra de Cinema Europeu

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
O italiano 'Sole', uma das atrações da Mostra de Cinema Europeu Foto: Estadão

Em meio ao tsunami audiovisual em que fomos engolfados, passa um pouco despercebida esta Mostra de Cinema Europeu, que tem boas atrações. Começou dia 1º de outubro e vai até dia 8. Ainda há tempo para dar uma espiada. 

São 12 longas-metragens, de vários países europeus, que podem ser vistos, de graça, na plataforma https://www.festivalscope.com

Basta se credenciar na plataforma e assistir aos filmes. É simples. Até eu fui capaz.

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Consegui, até agora, ver três longas e não me decepcionei. Pelo contrário. 

Vi o francês Os Perfumes, o lituano Oleg e o italiano Sole. Gostei dos três, de maneira diferente. 

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Em Os Perfumes, de Grégory Magne, Emmanuelle Devos faz uma perfumista famosa que, por motivos que não vêm ao caso, caiu em desgraça na profissão e agora se vê obrigada a usar seu olfato privilegiado para fins menos nobres. Ela contrata um motorista também em dificuldades e, do relacionamento de ambos, nasce uma interessante troca de experiências. Devos, como sempre, é um charme só e atração à parte. 

Ok, é um filme comercial, que agradou uma parte da crítica francesa e desagradou a porção mais, digamos assim, xiita da cinefilia. A característica desse grupo é gostar apenas de um tipo de filme e descartar de maneira sumária todo o resto. 

Com um pouco de tolerância, porém, Os Perfumes revela-se aquele tipo de boa diversão, de qualidade, que não ofende a inteligência de ninguém. Ao contrário. 

Oleg, de Juris Kursitis, é um filme muito mais duro. Mostra a saga de um açougueiro lituano que consegue trabalho na Bélgica e vai em busca de um salário legal para saldar dívidas em seu país. 

Não é preciso muito tempo para Oleg descobrir que a solidariedade na classe trabalhadora é coisa do passado. Despedido, para sobreviver vê-se obrigado a aceitar uns bicos (trabalhos temporários) agenciados por um aproveitador inescrupuloso e um tanto psicótico. 

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O retrato é o do vale-tudo vigente na sociedade contemporânea, mesmo em suas camadas mais afluentes como a Bélgica. Imagine por aqui. Registro duro da exploração de imigrantes, usa uma câmera documental parte do tempo, sem maiores firulas. Tem força. 

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Por fim, o terno, mas nunca enganador Sole, do italiano Carlo Sironi. Aqui, trata-se de Lena (Sandra Drzymalska), uma garota polonesa de 22 anos, grávida de sete meses, que pretende vender seu bebê para um casal italiano que não pode ter filhos. Ela o faz para financiar o sonho de começar nova vida na Alemanha, onde tem uma amiga. 

Há quem acompanhe a história sempre temendo pelo pior. E, de fato, tudo parece equilibrado de maneira precária. O casal sem filhos terá de arrumar um ardil para ficar com a criança. A garota polonesa deverá fingir uma união com um jovem italiano, Ermanno (Claudio Segaslucio), que vem a ser sobrinho do casal. Ele deverá acompanhar os dias finais da gravidez e o parto. 

No entanto, algo sai dos planos quando o bebê nasce prematuro e a mãe deverá ficar junto do recém-nascido mais tempo do que havia combinado. Emoções incontroláveis entram em jogo. Sentimentos poderosos, talvez, mas insuficientes para alterar as regras do jogo em uma sociedade em que o dinheiro fala mais alto, afinal. Uma nota de melancolia marca o final desse belo relato muito bem construído e interpretado.   

 

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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