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Opinião|Bibi

Inolvidável foi a interpretação de Bibi Ferreira na peça Gota d’Água, tomada pela personagem trágica a ponto de levar a platéia à catarse - que, aliás, é a finalidade da tragédia

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
 Foto: Estadão

Não acompanhei a fundo a carreira de Bibi Ferreira e os obituários de hoje estão muito ricos - como rica foi sua trajetória de vida e arte.

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Assim, não vou chover no molhado, como se diz. Queria apenas recordar algo.

Nos anos 1970, 76 ou 77, creio, eu estava no Rio e fui ver a peça Gota d'Água, de Chico Buarque e Paulo Pontes. Bibi fazia Joana, personagem inspirada em Medeia. Traída por Jasão, Joana/Medeia vinga-se matando os filhos que tivera com ele.

A tragédia de Eurípedes é terrível e, ambientada pelos autores à realidade brasileira, ganha amplitude insuspeitada. A ressonância desse texto antigo, remodelado, em nosso inconsciente, é algo marcante, para sempre.

Mas inolvidável, mesmo, foi a interpretação de Bibi Ferreira, tomada pela personagem trágica a ponto de levar a platéia à catarse - que, aliás, é a finalidade da tragédia.

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Tanta coisa vivida nestes anos todos, tantos filmes vistos, livros lidos, peças assistidas, músicas ouvidas, trabalho à beça, viagens, textos escritos, alegrias e desgostos, e nunca me esqueci de Bibi naquele palco, a gritar seu ódio de mulher traída e decidir-se pela vingança mais infame. Quanta potência! Quanta vida naquela personagem atormentada!

Grande Bibi. Descanse em paz.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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