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Opinião|Berlin Alexanderplatz: a obra-prima de Fassbinder

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Há quem diga que se trata do maior filme de Rainer Werner Fassbinder. E sempre aparece alguém para comentar: é mesmo o maior, dura quase 16 horas! Piadas à parte, Berlim Alexanderplatz, tirado da obra de Alfred Döblin, é mesmo um monumento. Um painel gigantesco da Alemanha nos anos 20, visto pelos olhos do malandro Franz Biberkopf, interpretado de maneira magistral por Gunther Lamprecht.

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Esse monumento da cultura alemã será apresentado na Mostra em episódios, tal como foi concebido. São 13 episódios e um epílogo. Aliás, a própria Mostra já o havia exibido, em 1985, em cópias em 16 mm. Anos atrás, o Instituto Goethe chegou a promover a apresentação do filme de uma vez só, em maratonas que atravessavam a noite. Nos anos 80, a TV Cultura passou-o em episódios semanais. E a Versátil está lançando a obra agora, na íntegra, em seis DVDs, a obra maior (com aspas ou sem) desse cineasta visceral que foi Fassbinder. Tanto a cópia apresentada pela mostra quanto a versão em DVD provêm do negativo restaurado. É filme para ver e rever. Ver na tela e ter em casa. Mas o cinéfilo não pode perder a oportunidade de apreciar essa obra na cópia em 35 mm trazida pela Mostra. Deve ser oportunidade única de conferir o tom obscuro, a luz expressionista empregada por Fassbinder na adaptação do romance.

A história começa com Biberkopf saindo da prisão onde permaneceu por quatro anos. O ambiente é o da depressão econômica que se segue à derrota alemã na 1ª Guerra Mundial. As dificuldades econômicas, a humilhação, a incapacidade de pagar a reparação de guerra, são fatores que criam um clima propício à ascensão de aventureiros, como se veria depois. No entanto, no romance, e no filme, essa perspectiva histórica é observada entre os habitantes do submundo. Lá onde Biberkopf, que não tem grande talento para coisa nenhuma a não ser os biscates, trava suas relações eletivas com a marginalidade. Nesse ambiente, tudo é risco: ele mantém caso com uma prostituta, mas com isso desperta a rivalidade de um rufião enciumado, que se finge de amigo.

Deve-se entender que adaptar o romance de Döblin era um desafio e tanto para Fassbinder. Publicado em 1929, o livro valia-se de uma multiplicidade de vozes e pontos de vista, incorporando até mesmo notícias de jornais na narrativa, tudo para falar daquela fauna reunida em torno da praça Alexander em Berlim. No filme, essa explosão narrativa, de certa forma, é concentrada em uma figura única, o protagonista Biberkopf, através do qual passam os fios da história. Mas é claro que toda as tramas se espraiam em narrativas secundárias, e em uma multidão de personagens.

Enfim, é a Alemanha do entreguerras fertilizando em surdina seu ovo de serpente, fato insuspeitado por esses personagens secundários que vivem à margem da vida. O lúmpen, levado pela necessidade única de sobreviver, que agride e entredevora-se para manter-se à tona. Não existe retrato mais complexo e comovente daquele país que poucos anos depois tentaria tornar-se o senhor do mundo. Um retrato expressionista, belo como cabaré decadente, doloroso como ressaca de steinhägger.

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Serviço

Berlin Alexanderplatz - Episódio 1

Cine Bombril 1 - Hoje, 19h50

Berlin Alexanderplatz - Episódios 2, 3 e 4

Cine Bombril 2 - Dom., 18h10

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Berlin Alexanderplatz - Episódios 5, 6 e 7

Cine Bombril 2 - 2.ª, 18h10

Berlin Alexanderplatz - Episódios 8, 9 e 10

Cine Bombril 2 - 3.ª, 18h10

Berlin Alexanderplatz - Episódios 11, 12 e 13

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Cine Bombril 2 - 4.ª, 18h10

Berlin Alexanderplatz - Epílogo

Cine Bombril 2 - 5.ª, 18h10

(Caderno 2, 25/10/08)

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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