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Opinião|Batman e Simonal

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

PAULÍNIA - O que os dois têm a ver? Só no meu espaço temporal. É que andei meio fora do ar pois saí de Paulínia e fui a São Paulo, resolver uns assuntos no jornal. Dormi em casa, assisti à cabine de Batman - o Cavaleiro das Trevas e voltei para cá. Só agora cheguei ao hotel, a tempo de postar alguma coisa. A internet não estava funcionando, tive de reclamar, etc. etc.

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Enfim, achei Batman um belo filme. Intenso, dark, com pinta de tragédia. Heath Ledger, que morreu jovem, faz um Coringa insano, muito impressionante. E Christian Bale está muito bem. Mas é a concepção do filme - mais que os atores - o que mais impressiona favoravelmente. Não quero adiantar nada, mas vocês vão ver que existe uma discussão interessante nele: o que é de fato um herói? Ou melhor, que tipo de herói se precisa em determinados momentos?

Posso estar enganado, mas acho que escavando essa idéia do Cavaleiro das Trevas, acho que iremos encontrar um pequeno texto de Jorge Luis Borges chamado Tema do Traidor e do Herói. Christopher Nolan, ou o roteirista, leu Borges? Se leu, fez muito bem ao reciclá-lo em Gothan City. Falar nisso, esse pequeno grande texto foi usado por ninguém menos que Bernardo Bertolucci em A Estratégia da Aranha, um clássico do cinema político. Ah, sim, Batman é político, à sua maneira.

E Simonal? Trata-se do documentário que acabo de ver, dirigido por Claudio Manoel, Micael Langer e Cavito Leal. Filme maduro, enxuto, cheio de ritmo, narra a ascensão e queda de um grande artista popular, que decai quando supostamente usa sua influência nos meios da repressão da ditadura para resolver um problema pessoal. Simonal é tido como informante do regime, dedo-duro, e cai em desgraça. Sua carreira acaba, ele se afunda no álcool e morre de cirrose. É o tipo de documentário que ouve os vários lados da história. Contextualiza o caso, que só poderia ter ocorrido numa época de intensa radicalização política, em que nuances são banidas. Adorei. E o público também. Dos concorrentes aqui em Paulínia foi o mais aplaudido até agora.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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