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Cinema, cultura & afins

Opinião|Baby Love

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Não se sabe por que motivos a comédia francesa Comme les Autres virou Baby Love no Brasil. Pode ser o suposto apelo de um título inglês para essa história bem francesa de um casal gay que entra em crise depois que um deles resolve ser pai. Emmanuel (Lambert Wilson) é médico pediatra e enfrenta o companheiro Philippe (Pascal Helbé), advogado, que deseja apenas curtir a vida, sem a responsabilidade de criar uma criança.

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O tema é dos mais atuais e diz respeito à possibilidade de adoção por casais gays. Para acompanhar o filme, o Reserva Cultural (av. Paulista, 900) realiza dia 2/10, às 21h30, o debate Dois Pais ou duas Mães - Ainda Existe o Preconceito?, moderado pelo jornalista Christian Petermann com a presença de Paulo Borges (produtor da São Paulo Fashion Week), Leão Lobo (apresentador de TV), Vera Moris (psicóloga) e Eduardo Rezende Mello (juiz de direito). A entrada é livre, mas será dada preferência a quem assistir à sessão do filme, às 19h40.

Talvez, de fato, o filme de Vincent Garenq inspire uma conversa aberta sobre esse assunto polêmico. Isso porque é uma comédia sem preconceitos, que não se contenta em ilustrar as diversas faces de um problema, mas procura, pelo menos até certo ponto, criar personagens críveis, verdadeiros, matizados. Ele próprio tem origem em fatos reais. Garenq teve idéia para a história quando soube que Manu, um amigo de colégio homossexual, havia viajado num fim de semana, junto com o companheiro, para se encontrarem com um casal de lésbicas a fim de discutir a possibilidade de conceberem um filho em comum.

A disposição com que enfrentavam tal complicação fez Garenq perceber como podia ser poderoso o desejo de ter um filho, biológico ou adotado. E que esse desejo era independente do fato de o casal ser hetero ou homo. Em homenagem ao amigo, batizou o seu personagem também de Emmanuel, ou simplesmente Manu.

A história entra por bifurcações interessantes, como quando Manu conhece uma argentina (Pilar López de Ayala), com problemas de documentação na França, e lhe propõe um casamento branco. Em troca de... Bem, isso o espectador terá de descobrir por sua conta. Mas os entrechos, por curiosos ou imaginativos que sejam, não dão conta da personalidade de um filme.

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E esta, ao fim de algum tempo, se revela bastante convencional. Há, claro, todo um lado simpático aos personagens, Manu em especial, retratado de maneira sóbria, com o cuidado de evitar caricaturas e clichês. Mesmo assim, não deixa de ser um estereótipo quando a casa é visitada por uma assistente social e ela descobre uma foto comprometedora, cuidadosamente escondida.

Há momentos em que, mesmo sem querer, Baby Love relembra A Gaiola das Loucas, de Eduard Molinaro, ou O Banquete de Casamento, de Ang Lee. Mas sem a graça de um ou a inspiração de outro.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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